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Questão 28 Enem 2024 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 28

Interpretação de Textos textos literários

    Meu irmão é filho adotivo. Há uma tecnicidade no termo, filho adotivo, que contribui para sua aceitação social. Há uma novidade que por um átimo o absolve das mazelas do passado, que parece limpá-lo de seus sentidos indesejáveis. Digo que meu irmão é filho adotivo e as pessoas tendem a assentir com solenidade, disfarçando qualquer pesar, baixando os olhos como se não sentissem nenhuma ânsia de perguntar mais nada. Talvez compartilhassem da minha inquietude, talvez de fato se esqueçam do assunto no próximo gole ou na próxima garfada. Se a inquietude continua a reverberar em mim, é porque ouço a frase também de maneira parcial — meu irmão é filho — e é difícil aceitar que ela não termine com a verdade tautológica habitual: meu irmão é filho dos meus pais. Estou entoando que meu irmão é filho e uma interrogação sempre me salta aos lábios: filho de quem?

FUCKS, J. A resistência. São Paulo: Cia. das Letras, 2015.


Das reflexões do narrador, apreende-se uma perspectiva que associa a adoção



a)

a representações sociais estigmatizadas da parentalidade.

b)

à necessidade de aprovação por parte de desconhecidos.

c)

ao julgamento velado de membros do núcleo familiar.

d)

ao conflito entre o termo técnico e o vinculo afetivo.

e)

a inquietações próprias das relações entre irmãos.

Resolução

a) Correta. A narrativa passa pela descrição da reação de terceiros à informação de que o irmão do narrador é adotivo, como o disfarce de pesar. Nesse sentido, a adoção é associada a representações sociais estigmatizadas da parentalidade, como se essas só fossem genuínas e felizes se compostas por pessoas de mesma descendência. 

b) Incorreta. O narrador não associa a adoção à necessidade de aprovação por parte de desconhecidos, já que o texto explora como os questionamentos de desconhecidos reverberam no próprio narrador. Isso acontece não de forma a este buscar a aprovação de terceiros, mas como um ciclo ao qual ele está preso: afirmar a verdade, que seu irmão é filho de seus pais, e se questionar, mesmo que seu interlocutar já tenha esquecido do assunto, "filho de quem?". 

c) Incorreta. O julgamento velado citado pelo autor vem de pessoas em geral, não especificamente de familiares.

d) Incorreta. A questão não é o termo técnico em si, mas o que ele simboliza, ou seja, duas pessoas serem filhas de pais diferentes e, ao mesmo tempo, serem filhas dos mesmos pais. No texto, o vínculo afetivo e o termo técnico simbolizam a mesma conclusão: o irmão do narrador é filho de seus pais. Não há um conflito entre essas duas coisas, mas, sim, um conflito interno do próprio narrador em relação a elas.

e) Incorreta. O texto centra seus apontamentos no ponto de vista do narrador em relação a como as pessoas enxergam seu irmão e como ele reage a isso. Ele não entra em detalhes de sua relação com seu irmão ou de relações entre irmãos em geral.