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Questão 29 Enem 2024 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 29

História da Arte Geral

TEXTO I

    A 13 de fevereiro de 1946, Graciliano Ramos escreve uma carta a Cândido Portinari relembrando uma visita que lhe fizera quando tivera a ocasião de apreciar algumas telas da série Retirantes. Diz o escritor alagoano:

    Carissimo Portinari:

    A sua carta chegou muito atrasada, e receio que esta resposta já não o ache fixando na tela a nossa pobre gente da roça. Não há trabalho mais digno, penso eu. Dizem que somos pessimistas e exibimos deformações; contudo, as deformações e essa miséria existem fora da arte e são cultivadas pelos que nos censuram. [ ... ]

    Dos quadros que você me mostrou guardo almocei no Cosme Velho pela última vez, o que mais me comoveu foi aquela mãe com a criança morta. Saí de sua casa com um pensamento horrível: numa sociedade sem classes e sem miséria, seria possível fazer-se aquilo? Numa vida tranquila e feliz, que espécie de arte surgiria? Chego a pensar que teríamos cromos, anjinhos cor-de-rosa, e isto me horroriza.

    Graciliano

Disponlvel em: https://graciliano.com.br. Acesso em: 6 fev. 2024 (adaptado)

 

TEXTO II

Histórias de ninar (adultos)

    Houve um tempo — tão perto, e, ó, tão longe — em que a arte era um holofote na unha encravada, campeonato de melhores esmaltes.

    Raskolnikov matava velhinhas, a família de Gregor Samsa o assassinava a "maçãzadas", Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis) é o retrato mais perfeito de tudo o que tem de pior na sociedade brasileira, uma sequência tristemente hilária de ações moralmente condenáveis, atitudes pusilânimes, cálculos mesquinhos e maus passos cretinos.

    A literatura, o cinema e o teatro vêm se transformando num exercício de lacração: o mal está sempre no outro, os protagonistas são ironmen/woman da virtude. A pessoa sai da leitura ou da sessão não com a guarda abaixada, as certezas abaladas, mais próxima da verdade (ou, à falta de uma palavra melhor, da sinceridade): sai com suas certezas reforçadas.

    A realidade é confusa. Contraditória. Muitas vezes incompreensível. A arte é onde tentamos nos mostrar nus, com todos os nossos defeitos.

PRATA, A. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 12 jan. 2024 (adaptado).


No que diz respeito à arte, o posicionamento de Antônio Prata, no Texto II, aproxima-se da tese de Graciliano Ramos, no Texto I, uma vez que



a)

defendem a dignidade do ofício dos artistas.

b)

concluem que a arte reforça crenças pessoais.

c)

apresentam a pobreza como inspiração para a arte.

d)

afirmam o necessário caráter desestabilizador da arte.

e)

atestam que há mudanças sifnificativas na produção artística.

Resolução

a) Incorreta. Ambos os textos não tratam de uma dignidade da arte ou do artista, mas sim de sua temática e preocupação de suas narrativas, visuais ou textuais.  O texto I reflete o impacto de uma pintura que traz uma tragédia humana, a mãe segurando seu filho morto em seus braços; o texto II traz uma reflexão sobre a ausência de trabalhos como a de Portinari, que retrata as mazelas da nossa existência humana.

b) Incorreta. A proposta de ambos os textos é reforçar a importância que a arte tem de desconstruir as certezas e as crenças de seus espectadores e leitores, sendo assim, o oposto mencionado na alternativa.

c) Incorreta. Não se trata de a pobreza ser necessariamente a inspiração da arte, mas de a arte revelar as entranhas sociais e individuais, como diz no texto II “A arte é onde tentamos nos mostrar nus, com todos os nossos defeitos”, sendo assim, revelar o que vivemos para nos proporcionar uma reflexão e, portanto, não necessariamente exaltar a pobreza.

d) Correta. Os dois textos apresentam a ideia de que a arte tem o papel de confrontar seus espectadores, destituindo a arte de apresentar apenas o belo, não levando em consideração apenas, por exemplo, a crença pessoal do artista.

e) Incorreta. De fato, ao ler os dois textos, nota-se que há uma mudança na prática e conteúdos encontrados nos fazeres artísticos, entretanto, essa não é a questão central, pois, na verdade, a mudança é criticada por conta de suas novas temáticas, que perdem sua função social, sendo essa a questão central dos textos I e II.