Ed Mort só vai
Mort. Ed Mort. Detetive particular. Está na plaqueta. Tenho um escritório numa galeria de Copacabana entre um fliperama e uma loja de carimbos. Dá só para o essencial, um telefone mudo e um cinzero. Mas insisto numa mesa e numa cadeira. Apesar do protesto das baratas. Elas não vencerão. Comprei um jogo de máscaras. No meu trabalho o disfarce é essencial. Para escapar dos credores. Outro dia entrei na sala e vi um cara do King Kong andando pelo chão. As baratas estavam roubando as máscaras. Espisoteei meia dúzia. As outras atacaram a mesa. Consegui salvar minha Bic e o jornal. O jornal era novo, tinha só uma semana. Mas elas levaram a agenda. Saí ganhando. A agenda estava em branco. Meu último caso fora com a funcionária do Erótica, a primeira ótica da cidade com balconista topless. Acabara mal. Mort. Ed Mort. Está na plaqueta.
VERISSIMO, L. F. Ed Mort: todas as histórias.
Porto Alegre: L&PM, 1997 (adaptado).
Nessa crônica, o efeito de humor é basicamente construído por uma
a) |
segmentação de enunciados baseada na descrição dos hábitos do personagem. |
b) |
ordenação dos constituintes oracionais na qual se destaca o núcleo verbal. |
c) |
estrutura composicional caracterizada pelo arranjo singular dos períodos. |
d) |
sequenciação narrativa na qual se articulam eventos absurdos. |
e) |
seleção lexical na qual predominam informações redundantes. |
a) Incorreta. A segmentação das frases da personagem-narrador, predominantemente em períodos simples, dá ritmo ágil e econômico à prosa, o que reforça o éthos do detetive particular Ed Mort.
b) Incorreta. Embora a maioria dos períodos seja simples, há frases nominais (“Mort”, “Ed Mort”) e orações com predicado nominal (“No meu trabalho o disfarce é essencial”).
c) Incorreta. Como se observa nos comentários dos itens anteriores, a escolha estilística de Verissimo por frases curtas parece estar relacionada à fala do detetive, emulando uma prosódia enxuta, sem excessos.
d) Correta. Para o efeito cômico pretendido, certamente colaboram os eventos nonsense narrados (máscaras para escapar dos credores, baratas que dividem a sala e protestam, roubam máscaras, jornal e agenda, etc.).
e) Incorreta. É possível que a redundância a que faz menção a alternativa é a repetição do sobrenome do detetive Ed Mort, repetido em sua apresentação. Essa fórmula de introdução faz parte do imaginário das histórias policiais e remete ao famoso espião criado por Ian Fleming, James Bond.