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Questão 0 Unicamp 2025 - 2ª fase - dia 1

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Redação

Redação

PROPOSTA 1

Você é integrante de um coletivo que defende a igualdade de gênero. Após ler matérias sobre a aprovação de leis que afetam diretamente as mulheres, você constatou que tais leis são elaboradas por um Parlamento majoritariamente masculino. Então decidiu mobilizar suas/seus colegas do coletivo para articular, por meio de iniciativa popular, um Projeto de Lei (PL) que estabeleça igualdade de gêneros nas cadeiras do Congresso Nacional. Você ficou responsável por escrever o texto de apresentação desse PL, o qual será lido na Câmara dos Deputados. Em seu texto, você deve destacar: a) malefícios que a desigualdade de gênero no Parlamento tem gerado na sociedade brasileira; e b) argumentos que comprovam que uma representação política mais igualitária pode levar a um cenário de maior justiça social no país. Você deve, obrigatoriamente, apropriar-se de elementos da coletânea a seguir, demonstrando leitura crítica dela na elaboração de seu próprio texto.

Glossário:

Coletivo: conjunto de pessoas reunidas em prol de um mesmo objetivo: político, social ou artístico.

Iniciativa Popular: consiste na apresentação de um Projeto de Lei à Câmara dos Deputados, assinado por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído por pelo menos cinco estados, com até 0,3% dos eleitores de cada um deles.

1. Maioria no Congresso Nacional, os parlamentares homens são os principais responsáveis por 74% dos projetos desfavoráveis aos direitos das mulheres. Uma em cada quatro propostas sobre gênero no Congresso prejudica as mulheres de alguma forma. O levantamento do “Elas no Congresso”, de 2020, feito pela revista AzMina, avaliou 331 Projetos de Lei (PL). Os temas mais abordados foram gênero, aborto, cotas na política e violência doméstica. A doutoranda em Ciência Política da USP, Beatriz Rodrigues Sanchez, acredita que, devido a essa formação assimétrica do Congresso, os valores e a visão dos homens prevalecem, dificultando a instauração de políticas afirmativas e de maior visibilidade à pauta feminina: “Os homens brancos, heterossexuais, empresários e ruralistas ocupam a maior parte das cadeiras no Congresso Nacional”.

(Adaptado de OLIVEIRA, Kaynã de. “Machismo estrutural no legislativo não enxerga interesses das mulheres”. Jornal da USP, 21/05/2021.)

(Disponível em https://censo2022.ibge.gov.br/pano rama/indicadores.html?localidade=BR&tema=6. Acesso em 28/10/2024.)

(DORIA, Vinícius. “Congresso é um espelho distorcido da sociedade”. Correio Brasiliense, 27/08/2023.)

4. Aprovada por unanimidade na Câmara e no Senado mexicanos, a Reforma Constitucional de 2019 definiu que a busca pela paridade de gênero alcançaria os três poderes e organismos públicos autônomos, como o Banco do México e o Instituto Nacional de Estatística e Geografia. O avanço entre a Reforma de 2014 – que definiu a paridade no Legislativo – e a de 2019 foi possível porque já havia uma paridade no Congresso no momento dessa segunda votação, e, portanto, havia um expressivo número de mulheres parlamentares eleitas que então pressionaram pelo equilíbrio também no Executivo e no Judiciário.

(Adaptado de BIANCONI, Giulliana et al. “Lei de paridade de gênero no México mostra caminho para nova política”. Gênero e Número, 22/08/2022.)

5. Está em tramitação na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL 1904/24) que equipara o aborto realizado após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples. Caso aprovado, uma mulher vítima de estupro que interrompa a gravidez pode ter pena maior do que a do estuprador. A pena para homicídio simples – definido pelo Código Penal como o crime praticado quando se mata alguém – varia de 6 a 20 anos de prisão. Já a pena para o estupro varia de 6 a 10 anos, podendo chegar a 12 anos se a vítima tiver entre 14 a 17 anos, destaca a advogada Flávia Pinto Ribeiro, presidente da OAB Mulher Rio de Janeiro.

(Adaptado de SCHROEDER, Lucas; SOUZA, Renata. “Mulher vítima de estupro pode ter pena maior que estuprador em caso de aborto, segundo projeto”. CNN Brasil, Política, 13/06/2024.)

6. A deputada Soraya Santos ressalta que a importância da presença feminina na política vai muito além de discutir temas associados a mulheres. Para a parlamentar, a participação das mulheres se faz necessária para a discussão de pautas mais abrangentes, como violência contra crianças e adolescentes, educação ou saúde. Soraya Santos chama atenção também para uma outra forma de violência política, aquela presente nas estruturas partidárias, que sabotam as candidaturas femininas a cargos eletivos. Embora a legislação obrigue os partidos a reservar no mínimo 30% das candidaturas para mulheres nas eleições para a Câmara dos Deputados, assembleias legislativas e câmaras de vereadores, até muito recentemente, a prática mais comum, conforme explica a deputada, era a apresentação das chamadas candidaturas “laranja”, uma maneira de burlar a lei. Nas eleições municipais de 2016, mais de 14 mil mulheres tiveram zero voto, muitas delas sequer sabiam que o seu CPF contava para a chapa, exemplifica Soraya Santos.

(Adaptado de “Bancada feminina conseguiu aprovar 43 leis desde o início da legislatura, em 2023”. Rádio Câmara, 08/03/2024.)

PROPOSTA 2

Você é diretor/a de uma escola pública e, ao circular pelos corredores dela, no intervalo entre as aulas, notou que os/as alunos/as do Ensino Fundamental estavam usando o celular para apostar dinheiro em um jogo de azar. Preocupado/a com a situação, você decidiu escrever um comunicado a ser enviado aos responsáveis por esses/as alunos/as, expressando as preocupações da instituição com esse novo hábito de crianças e pré-adolescentes. Em seu texto, você: a) explica de que forma essas apostas por celular podem prejudicar o comportamento dos alunos na escola; e b) alerta sobre os principais perigos a que crianças e pré-adolescentes estão sujeitos ao se envolverem com as bets. Você deve, obrigatoriamente, apropriar-se de elementos da coletânea a seguir, demonstrando leitura crítica dela na elaboração de seu próprio texto.

Glossário:

Bets: o termo “bet” é a palavra em inglês para “aposta”. No contexto de jogos de azar, a palavra bets se refere a qualquer tipo de aposta feita em eventos cujo resultado é incerto, como partidas esportivas ou jogos de cassino. A palavra tem sido amplamente adotada por diversas plataformas de apostas online.

(Adaptado de LEITES, Raphael. “O que são bets?”. Estadão – E-investidor. 01/10/2024.)

1. Um universo cheio de tigrinhos, aviõezinhos, moedas de ouro e craques do futebol. O que parece fascinante é perigoso e não tem poupado crianças e adolescentes, público que cresce à medida que os algoritmos das redes sociais insistem em disseminar propagandas de jogos de azar, apostas online e bets. Além de jogar, influenciadores com idade entre seis e 17 anos estão sendo recrutados por casas de apostas virtuais para fazer publicidade daquilo que sequer deveriam acessar, mostrou investigação do Instituto Alana. Atraído por jogadores e locutores famosos, o estudante L., de 13 anos, decidiu se arriscar como técnico de futebol e usou escondido o cartão de crédito da avó para bancar suas apostas. Chegou a gastar R$30 mil. Perdeu tudo. Ivelise Fortim, professora de psicologia e de tecnologia em jogos digitais da PUC-SP, explicou que “jogos de apostas são proibidos para crianças e menores de idade porque eles têm maior impulsividade e dificuldade de controle, sem a maturidade necessária para tomar decisões sobre o risco financeiro envolvido. Entre as consequências mais graves para esse público, estão a depressão e o suicídio.”

(Adaptado de BITTENCOURT, Carla. “Apostas online atraem crianças e adolescentes, apesar de ilegais”. Portal Lunetas, 26/06/2024.)

* p.p. = pontos percentuais     ** SM = salário mínimo

(Adaptado de PODER360, 17/10/2024.)

(Charge de Benett. Folha de S. Paulo, 20/08/2024.)

4. As bets estão em processo de regulamentação no Brasil. Atualmente, só podem funcionar as empresas de apostas autorizadas pelo governo. Os demais sites devem ser bloqueados. A advogada Monique Guzzo, das áreas de Direito Público e Regulatório, explica que, antes da lei das bets (Lei 14.790/23), as apostas de quota-fixa estavam legalmente permitidas desde 2018, mas não havia um sistema de controle de entrada, fiscalização ou tributação. “Isso permitia que empresas estrangeiras operassem no Brasil sem um retorno significativo de impostos ao governo.” Além disso, não existia um órgão específico para regulamentar e fiscalizar essas empresas, o que dificultava o controle sobre a prática. Com a nova lei das bets, foram introduzidos requisitos e diretrizes para tal regulamentação.

(Adaptado de “Regulamentação das bets: o que pode e o que não pode? Entenda.” Portal Migalhas, 03/10/2014.)

5. No interior de São Paulo, a enfermeira Gabriely Sabino foi finalmente encontrada, após passar uma semana desaparecida. Ela assumiu à imprensa ter fugido após contrair dívidas ao investir no “Jogo do Tigrinho”, uma espécie de caça-níqueis online. Em Alagoas, dois influenciadores digitais foram presos, suspeitos de divulgar ganhos falsos e atrair jogadores para o mesmo game de apostas. No Maranhão, a polícia investigou suicídios que teriam ocorrido após usuários perderem grandes quantias na plataforma. O “Jogo do Tigrinho” chama apostadores com uma forte promessa de ganhos rápidos e fáceis. Para o psiquiatra Rodrigo Machado, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, o ciclo vicioso causado pelo jogo precisa também ser visto sob uma ótica de saúde pública. “A gente fica dependente não só de substâncias químicas, mas também de comportamentos altamente sedutores para o cérebro, como o transtorno do jogo. No Brasil, o vício em apostas é identificado como doença pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10), nas categorias mania de jogo e jogo patológico.

(Adaptado de QUEIROZ, Gustavo. “Jogo do Tigrinho: os perigos de se viciar em games de aposta”. Brasil de Fato, 01/07/2024.)



Comentários

A proposta 1 do vestibular Unicamp 2025 solicita aos candidatos a produção de um “texto de apresentação”. Seguindo sua tradição de inserir o gênero textual em um contexto comunicativo bem delineado e de posicionar a estrutura discursiva como uma ferramenta dessa conjuntura, a prova não direciona seus holofotes para o gênero em si, mas ao propósito que deve conduzir sua escrita. Assim, mais uma vez mostra-se que o preparo para a prova de redação do vestibular Unicamp não condiz com a mera memorização de listas e de características de gêneros textuais, porém com o desenvolvimento das habilidades de leitura e de compreensão do enunciado, pois são fundamentais para a elaboração do texto.
Ainda sobre as tarefas, o referido texto de apresentação teria como função apresentar um Projeto de Lei (PL) – cujo objetivo seria assegurar que mulheres pudessem ocupar cargos legislativos no Parlamento Brasileiro de forma equânime aos homens - e, para isso, o candidato deveria cumprir com as tarefas subsequentes: discutir “malefícios que a desigualdade de gênero no Parlamento tem gerado na sociedade brasileira” (item a) e “argumentos que comprovam que uma representação política mais igualitária pode levar a um cenário maior de justiça social no país” (item b). Seria possível ao candidato estabelecer relações entre os comandos, uma vez que há um direcionamento lógico entre eles: a descrição da situação-problema na primeira tarefa e a discussão de que a resolução do ponto anteriormente descrito seria pré-requisito para o alcance da justiça social no Brasil, na segunda tarefa. Finalmente, vale destacar que a proposta não pede, portanto, a produção de um PL, mas de uma espécie de texto introdutório que desse base à iniciativa.
Para desenvolver plenamente os comandos do enunciado, era importante que o candidato percebesse que eles estão relacionas à problemática identificada pelo coletivo: leis que afetam diretamente as mulheres são elaboradas por um Parlamento composto majoritariamente por homens (questões relativas a aborto, por exemplo). Logo, uma Câmara de legisladores insensíveis a demandas femininas não pode assegurar que haja justiça para todos no país, constatação importante para o desenvolvimento tanto do item a, quanto do b. Ademais, a observação da disparidade entre o número de legisladores e de legisladoras é exatamente o que leva o coletivo à necessidade de produzir um PL de iniciativa popular. Então, seria desejável que o candidato mencionasse essa problematização em seu texto de apresentação do PL para engatilhar o desenvolvimento das tarefas exigidas.
Sobre os atores dessa interação comunicativa, de um lado temos os membros do coletivo, não aleatoriamente descrito como defensor da igualdade de gênero, e do outro, os deputados, dado que o PL será lido na Câmara dos Deputados. Era interessante que o candidato elaborasse textualmente o vínculo entre o grupo que produz o texto e a finalidade do próprio texto, uma vez que estão entrelaçados (afinal, é coerente  e proposital que um coletivo especialmente interessado pela equidade entre homens e mulheres seja o promotor de um PL que busque alcançar tal ideal no contexto político), assim como era relevante o direcionamento do texto aos deputados, pois são agentes do problema, ao mesmo tempo em que são também quem pode resolvê-lo. 
Para auxiliar os alunos em seu processo de escrita, a prova oferece seis textos-fonte. O primeiro aborda a hipótese da especialista Beatriz Rodigues Sanchez de que pautas ligadas ao universo das mulheres, como violência doméstica, não avancem no Congresso exatamente pela quantidade predominante de homens legisladores, fazendo com que outros interesses e demandas prevaleçam no debate público. A observação de Sanchez era bastante produtiva, dado que dificilmente legisladores ligados à bancada da bala, por exemplo, levarão adiante a discussão da violência gerada por armas no país, da qual mulheres destacam-se como vítimas. 
O segundo e o terceiro textos mostram informações numéricas, a partir de gráficos, preciosas para a configuração do problema identificado pelo coletivo. O Censo de 2022 (texto 2) indica que mulheres são a maioria da população brasileira. Assim, seria de se esperar que fossem muitas ou a maior parte das cadeiras do Parlamento ocupadas por elas. Contudo, o texto 3 mostra um desvio dessa expectativa, pois informa que dos 513 deputados, apenas 94 são mulheres, e que dos 81 senadores, somente 15 são mulheres. O gráfico também traz informações sobre etnia que indicam que grupos minoritários são subrepresentados no poder legislativo brasileiro.
Já o texto 4 discorre sobre o caso do México, país onde uma Reforma Constitucional de 2019 define que a equidade de gênero seja buscada nos poderes judiciário, legislativo e executivo, e também na ocupação de demais cargos públicos. O excerto explica que a reforma de 2019 só foi possível porque anteriormente, em 2014, uma outra reforma havia  estabelecido a paridade de gêneros em cargos políticos legislativos. Logo, a presença massiva de mulheres legisladoras fez com que, em 2019, uma nova reforma fosse aprovada, estendendo a paridade para outros setores do poder público mexicano. Evidentemente, o candidato poderia apropriar-se do exemplo do México, tanto para discutir o fato de que é necessário haver mulheres em todos os níveis de poder para que as pautas do universo feminino possam progredir, quanto para usar as reformas políticas do outro país como exemplos do que poderia ser feito por aqui para eliminar a disparidade de gênero do poder público.
Praticamente como um contraponto ao texto 4, o 5 mostra exatamente o que acontece às demandas femininas quando não há mulheres ocupando cargos políticos em número suficiente. O trecho de reportagem da CNN informa sobre a tramitação de um Projeto de Lei de 2024 (PL 1904/24), cujo objetivo é equiparar o aborto realizado após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples. Nesse caso, uma mulher vítima de estupro, que optasse pelo aborto posteriormente ao prazo estabelecido, poderia ser condenada com uma pena maior do que a do estuprador. O candidato poderia valer-se de tais informações para caracterizar os ataques feitos contra as mulheres como um resultado da ausência de quem as represente politicamente. 
Por fim, o texto 6 denuncia que uma lei brasileira já existente e cujo objetivo seria aumentar a quantidade de mulheres eleitas vem sendo burlada. A legislação do país obriga os partidos políticos a terem ao menos 30% de candidaturas femininas para cargos legislativos nos munícios, nos estados e na federação, contudo a deputada Soraya Santos informa que essa cota é muitas vezes ocupada por “laranjas”, ou seja, por falsas candidaturas. Além disso, Santos explica que a presença de mulheres em cargos políticos não produz apenas a defesa de questões desse grupo, mas também de outras ligadas à educação e à saúde, por exemplo, ou seja, mulheres não defendem apenas os próprios interesses, mas os de toda a sociedade. Tal constatação seria bastante pertinente para a produção do item b, que discute exatamente a necessidade da paridade de gêneros para a construção de uma sociedade mais justa. 
Assim, a leitura atenta dos textos oferecia base e repertório suficientes para que o candidato cumprisse com as tarefas propostas e desenvolvesse uma linha de raciocínio produtiva em relação à discussão proposta.
 

A proposta 2 do vestibular da Unicamp 2025 solicita que o candidato redija um comunicado, o qual irá circular nas dependências de uma escola de ensino público. Nele, o candidato deve assumir a máscara de um diretor/a dessa escola que notou que os os/as  alunos/as do Ensino Fundamental estavam usando o celular para apostar dinheiro em um jogo de azar. Ao sentir-se preocupado com a situação, o diretor/a decide enviar um comunicado aos responsáveis por esses/as alunos/as, expressando as preocupações da instituição com esse novo hábito de crianças e pré-adolescentes. A proposta de produção textual solicita que o candidato cumpra duas tarefas: a) explicar de que forma essas apostas por celular podem prejudicar o comportamento dos alunos na escola e b) alertar sobre os principais perigos a que crianças e pré-adolescentes estão sujeitos ao se envolverem com as bets. Sobre as bets, a banca informa que “se refere a qualquer tipo de aposta feita em eventos cujo resultado é incerto, como partidas esportivas ou jogos de cassino. A palavra tem sido amplamente adotada por diversas plataformas de apostas online”. Assim como na proposta 1, foi evidenciada pela banca a necessidade de que os candidatos utilizem as informações oferecidas pela coletânea de textos, demonstrando leitura crítica dela na elaboração de seu próprio texto.

O texto 1 informa ao candidato que o universo das apostas tem assumido um caráter lúdico, com desenhos de “tigrinhos, aviõezinhos, moedas de ouro e craques do futebol” nas plataformas, o que atrai as crianças e pré-adolescentes, público mais imaturo para tomar decisões que envolvem risco financeiro. Para além disso, casas de apostas virtuais têm recrutado influenciadores mirins (entre 6 e 17 anos) para fazer publicidade, o que também contribui para a questão. Para ilustrar a gravidade do caso, somos apresentados ao caso de um estudante de 13 anos que chegou a perder R$30 mil usando o cartão da avó. Além dos prejuízos financeiros, há também os emocionais. De acordo com a visão de uma especialista, “entre as consequências mais graves para esse público, estão a depressão e o suicídio”. As informações deste texto são produtivas para o cumprimento de ambas as tarefas.

O texto 2 traz um gráfico com informações importantes para que o candidato entenda o panorama das bets no Brasil. Nele, somos apresentados à quantidade de pessoas que fizeram apostas entre os dias 12 e 14 de outubro de 2024. É possível notar que quanto maior a escolaridade do indivíduo, menor a quantidade de apostas: 22 pessoas com ensino superior, 23 com ensino médio e 27 com ensino fundamental. Ademais, é possível notar que quanto menor a renda do indivíduo, maior a quantidade de apostas: 28 pessoas que recebem menos de 2 salários mínimos afirmaram ter feito apostas no período, enquanto nas faixas superiores os valores foram quase iguais (19 pessoas que recebem entre 2 e a 5 salários e 20 pessoas que recebem mais de 5 salários). Analisando as informações apresentadas, é possível depreender que o grupo mais vulnerável às apostas são pessoas com menor escolaridade e com menor poder aquisitivo, o que justifica a situação comunicacional proposta pela banca: alunos do nível fundamental de uma escola pública. Assim, especialmente esse grupo precisa de conscientização e atenção quanto às perdas financeiras e ao endividamento.

O texto 3 traz uma charge de Benett, publicada no jornal Folha de S. Paulo. Nela, há o retrato de uma criança que observa um tigre voando, que segura cartas de baralho nas mãos. O tigre faz referência ao “Jogo do Tigrinho”, um dos principais jogos de azar da atualidade. Unindo-se aos elementos não verbais, há a frase “Alice no país das bets”, que estabelece intertextualidade com a obra “Alice no país das maravilhas”, a qual conta a história de uma garota, Alice, que conhece um coelho branco falante. Ao longo da narrativa, a protagonista é inserida em um mundo novo, repleto de animais e objetos antropomórficos, que falam e se comportam como humanos. Em sua charge, Benett estabelece uma comparação entre os universos ficcionais (o “país das maravilhas” e o “Jogo do Tigrinhos”), já que ambos utilizam elementos infantis para atrair crianças.

O texto 4 informa o candidato sobre a regulamentação das bets, o que começou a ser realizada após a “lei das bets” (Lei 14.790/23), a qual definiu um controle de entrada, fiscalização e tributação para as plataformas. O texto informa que os sites de apostas são legais no Brasil e que inclusive o país recolhe impostos com a prática. Nesse sentido, é possível supor que o papel de conscientização sobre os perigos das bets deve ser feito em uma parceria entre as escolas e os pais, uma vez que, ainda que traga inúmeros prejuízos, não há qualquer ilegalidade nas apostas.

O texto 5 alerta o leitor sobre as graves consequências que o vício em jogos pode causar, dependência que inclusive é identificada como doença pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10), nas categorias mania de jogo e jogo patológico. Para exemplificar a gravidade da situação, somos apresentados a dois casos: uma jovem que ficou uma semana desaparecida e assumiu à imprensa ter fugido após contrair dívidas ao investir no “Jogo do Tigrinho” e dois suicídios que supostamente teriam ocorrido após usuários perderem grandes quantias de dinheiro na plataforma. Além dos casos, dois influenciadores digitais foram presos, suspeitos de divulgar ganhos falsos e atrair jogadores para o mesmo game de apostas. De acordo com um psiquiatra, o vício em jogos deve ser encarado sob uma ótica de saúde pública, uma vez que os usuários ficam dependentes “não só de substâncias químicas, mas também de comportamentos altamente sedutores para o cérebro, como o transtorno do jogo”.

Ao longo dos textos, somos informados sobre as graves consequências financeiras e mentais às quais os usuários das bets estão sujeitos, ainda que as plataformas sejam legalizadas. Soma-se a isso o fato de que as publicidades voltadas às bets têm se aproveitado da imaturidade das crianças e pré-adolescentes, os quais naturalmente se atraem pelo caráter lúdico e divertido dos sites e aplicativos. Diante dessa problemática, é válida a importância de a comunidade escolar – no caso da proposta, a direção escolar – tomar medidas que visem minimizar os prejuízos a esses jovens, que inclusive já se mostram interessados pelo universo das apostas. Diante desse cenário, é desejável que o candidato explore o sentimento de preocupação do interlocutor, o que justifica a elaboração deste comunicado que visa alertar aos pais e responsáveis sobre a situação.