Em 2004, Néstor Kirchner – presidente argentino à época – cedeu à sociedade civil a Escola de Mecânica da Marinha (ESMA), um antigo centro clandestino de detenção e tortura durante a ditadura (1976 e 1983). O motivo era a construção de uma espécie de museu nacional da memória das atrocidades cometidas pelo regime. Entre as imagens das mães e avós da Plaza de Mayo, entre organizações de luta que celebravam o reconhecimento de um trabalho sustentado por décadas, emergia ao lado do palco uma imagem disruptiva: um poncho vermelho. Destacava-se um rosto indígena. Era um dos líderes do Movimento Indígena Argentino; o líder pedia a inclusão dos povos originários no futuro museu: “A questão não é – como os antropólogos fazem – simplesmente sermos incluídos em um museu, como se estivéssemos apenas sendo adicionados. Queremos fazer parte da história nacional."
(Adaptado de RUFER, M. Nación y condición pos-colonial. In: BIDASECA, K. (Org.) Genealogías críticas de la colonialidad en América Latina, África, Oriente. Buenos Aires: CLACSO, 2016.)
Tendo em vista seus conhecimentos sobre memória política na Argentina e considerando as informações do texto, é correto afirmar que
a) |
os indígenas se posicionam – nas disputas pela memória nacional da Ditadura – abertamente contra o movimento das Mães e Avós da Plaza de Mayo. |
b) |
os indígenas – ao incorporarem perspectivas marginalizadas, como as dos povos originários – querem fazer parte da construção do museu para a expansão da história nacional. |
c) |
as lideranças indígenas – para dar visibilidade às suas identidades étnicas – propõem que a memória da nação seja apagada no antigo edifício da ESMA. |
d) |
nos protestos contrários à ocupação – para transformação em espaço de memória – do antigo edifício da ESMA, os ativistas indígenas defendem a redução temática do museu. |
a) Incorreta. O “movimento das mães e avós da Praça de maio” remonta a tentativa dessas mulheres de localizar o destino de suas filhas, perseguidas, capturadas e mortas pela ditadura argentina (1976-1983) e também de seus netos, pois muitas mulheres capturadas deram à luz nas cadeias da ditadura, especialmente na Escola de Mecânica da Marinha, e as crianças foram sequestradas pelos torturadores, que muitas vezes assumiram a paternidade delas. Devido a um decreto presidencial de 2004, o local se tornou um memorial da ditadura. Os indígenas, em nenhum sentido, se opõem ao movimento das mães e avós, apenas desejam fazer parte da história nacional argentina.
b) Correta. Os indígenas, como povos originários, reivindicam também serem parte da história nacional argentina e serem incluídos nesse memorial faz parte desse projeto.
c) Incorreta. Em nenhuma hipótese pode-se afirmar que os indígenas defendem que a memória nacional deve ser apagada. Na verdade, eles querem ser incluídos como parte dela.
d) Incorreta. Os indígenas não defendem a redução da temática do museu, mas sim sua ampliação, justamente com a inclusão de suas histórias.