Logo UNICAMP

Questão 38 Unicamp 2025 - 1ª fase

Carregar prova completa Compartilhe essa resolução

Questão 38

charges e tirinhas linguagem verbal e não verbal textos filosóficos

Texto.

*Legenda das falas do último quadrinho:

“Quantos títulos eu tenho? / Quem foi meu avô?”

(Quadrinhos de Wesley Samp. Disponível em https://westrips.com.br/author/wesley samp/. Acesso em 04/05/2024.)


Enquanto o povo da cidade se sentia muito importante, eu, por minha vez, me sentia necessário. Eles, porém, não me viam como alguém necessário, me viam como alguém útil. Para eles eu era um servidor, um serviçal. Eu era útil, mas poderia ser substituído porque não era necessário. Percebi que o povo da cidade tinha relações de utilidade e importância, mas não tinha relações de necessidade. Para nós, a pessoa que é importante não é quase nada. É aquela pessoa que se acha ótima, mas não serve. O termo que tem valor para nós é necessário. Há pessoas que são necessárias e há pessoas que são importantes. As pessoas que são importantes acham que as outras pessoas existem para servi-las. As pessoas necessárias são diferentes, são pessoas que fazem falta. Pessoas que precisam estar presentes, de quem se vai atrás.

(SANTOS, Antônio Bispo dos. A terra dá, a terra quer. São Paulo: UBU/Piseagrama, p. 24, 2023.)

Considerando o ponto de vista apresentado no texto de Antônio Bispo dos Santos sobre os “tipos de pessoa”, a personagem que fala nos quadrinhos de Wesley Samp pode ser caracterizada como alguém que



a)

se acha ótimo por ser importante.

b)

não é importante, embora se considere ótimo.

c)

é desnecessário, porque não tem importância.

d)

se considera útil, apesar de ser importante

Resolução

O texto de Antônio Bispo dos Santos destaca a diferença de sentido entre o “importante” e o “necessário”, no que diz respeito à visão que as pessoas têm sobre si mesmas. Fica evidente que, para o autor, ser necessário é mais valioso que ser importante, uma vez que a pessoa necessária é aquela pessoa que faz falta na vida das outras, enquanto o importante é apenas a pessoa que se considera “ótima”. A relação entre os textos permite afirmar, inclusive, que a personagem que fala nos quadrinhos seria de fato caracterizada pelo autor Antônio Bispo dos Santos como uma pessoa “importante” (aquela que não serve a nada ou a ninguém, mas que, ainda assim, se acha ótima).

a) Correta. A personagem que fala nos quadrinhos de Wesley Samp pode ser caracterizada como alguém que se acha ótimo por ser importante, afinal, é uma pessoa que apenas tenta se destacar como superior (como reforça a linguagem não-verbal dos quadrinhos, na medida em que a personagem é maior e tenta se colocar acima da outra pessoa) à outra por aquilo que ela é, não por aquilo que oferece. Ou seja, a reafirmação da importância dessa pessoa está associada apenas a ela mesma, e não à forma como se relaciona com o outro.

b) Incorreta. A fala do primeiro quadrinho (“Você sabe com quem está falando?”) seguida das demais que apontam para as características individuais da personagem, muitas delas ligadas a uma questão social/financeira, permite afirmar que a personagem quer ser vista como uma pessoa importante (e, por isso, ótima). Logo, não é correto afirmar que a personagem se caracteriza como alguém não importante.  

c) Incorreta. A personagem não é caracterizada como alguém que não tem importância. Além disso, de acordo com o texto de Antônio Bispo dos Santos, o conceito de necessidade não se relaciona diretamente com o de importância, eles seriam, em certa medida, opostos. Nesse sentido, não é possível afirmar que a personagem dos quadrinhos possa ser vista como desnecessária por não ter importância.

d) Incorreta. Não é correto afirmar que a personagem dos quadrinhos se considera uma pessoa útil, pois, de acordo com a definição oferecida pelo texto de Antônio Bispo dos Santos, útil é a pessoa que serve a outra, um serviçal. Essa não é a postura encontrada na personagem, uma vez que esta apenas procura reforçar a sua própria importância, sem se preocupar com aquilo que oferece aos outros.