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Questão 42 Unicamp 2025 - 1ª fase

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Questão 42

Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá

A citação a seguir, de Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, de Lima Barreto, apresenta como o narrador conheceu o protagonista.

 

 Num país em que, com tanta facilidade, se fabricam manipansos milagrosos, ídolos aterradores e deuses onipotentes, causa pasmo que a Secretaria dos Cultos não seja tão conhecida como a da Viação. Há, entretanto, nela, no seu Museu e nos seus registros, muita cousa interessante e digna de exame. 

Foi, por ocasião de desempenhar-me da incumbência do meu diretor, que vim a conhecer Gonzaga de Sá, afogado num mar de papeis, na seção de “alfaias, paramentos e imagens”, informando muito seriamente a consulta do vigário de Sumaré, versando sobre o número de setas que devia ter a imagem de S. Sebastião.

(BARRETO, Lima. Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá. São Paulo: Edição da Revista do Brasil, p. 17, 1919.)


A partir dessa citação e da leitura do romance, é correto afirmar que Lima Barreto usa a personagem Gonzaga de Sá para



a)

criticar um funcionário que prejudica o andamento da burocracia estatal.

b)

representar um sujeito que usa o serviço público para impor sua fé ao Estado.

c)

mostrar o valor do indivíduo em meio à sátira da burocracia estatal.

d)

figurar um sujeito que usa a religião para sua ascensão no serviço público.

Resolução

a) Incorreta. O alvo da crítica do narrador é a própria burocracia estatal, e não um funcionário ou indivíduo em particular. É a própria organização dessa estrutura, envolvida em questões religiosas irrelevantes, que impede a eficiência do serviço público.

b) Incorreta. De acordo com o narrador, a “Secretaria dos Cultos” é um órgão do serviço público voltado para a gerência de assuntos de matéria religiosa. Logo, não há um indivíduo que impõe sua fé ao Estado, visto que o próprio Estado já institucionalizou a religião em sua estrutura.

c) Correta. O trecho citado evidencia o olhar satírico do narrador Augusto Machado em relação ao serviço público, paralisado por uma burocracia estatal voltada a resolver questões irrelevantes, como o número de setas da imagem de São Sebastião. Em contraste com a ineficiência desse ambiente, o narrador destaca o valor de Gonzaga de Sá, um funcionário público que, por sua cultura e ética de trabalho, diferencia-se da mediocridade de seu meio. De fato, o narrador pretende registrar no romance as ideias profundas e originais desse personagem peculiar que manteve sua integridade e valor moral, mesmo convivendo no contexto retrógrado e oportunista do funcionalismo público do início do século XX.

d) Incorreta. Pode-se considerar que o texto em questão critica a institucionalização da fé religiosa pela burocracia estatal. Nesse sentido, não se trata de uma crítica a um indivíduo em particular; além disso, não há a menção a um sujeito que usa da religião para ascender no serviço público.