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Questão 45 Unicamp 2025 - 1ª fase

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Questão 45

Ailton Krenak - A vida não é útil

Em “Sonhos para adiar o fim do mundo”, o pensador Ailton Krenak conta-nos que um pajé Xavante sonhou que a terra ficaria desolada diante da ação predatória dos homens brancos. Escreve Krenak no livro:

“Foi ali que eu atinei que tinha algo na perspectiva dos povos indígenas, em nosso jeito de observar e pensar, que poderia abrir uma fresta de entendimento nesse entorno que é o mundo do conhecimento. Naquele tempo eu comecei a visitar as florestas (...) e, por todos os lados, os pajés diziam: ‘vocês precisam tomar cuidado porque o mundo dos brancos está invadindo a nossa existência.’ Invadindo.”.

(KRENAK, A. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, p. 35-36, 2020.)


No trecho, as preocupações dos pajés evocam



a)

o trauma de variados povos indígenas das florestas, decorrente das frestas de entendimento sobre o passado colonial extrativista.

b)

a adoção da diversidade de perspectivas, embora os homens brancos reconheçam a falibilidade do sistema de dominação presente.

c)

a diferença de perspectivas na relação homem-natureza, com a valorização da busca de um conhecimento não predatório.

d)

a resistência indígena a partir do sonho de que os homens brancos deixem de ameaçar a existência dos povos originários.

Resolução

a) Incorreta. A preocupação dos pajés é motivada pela dominação dos territórios indígenas que acontece no presente e não no passado colonial. Além disso, as frestas de entendimento - citadas no texto - seriam a respeito da relação do homem com a natureza e não acerca do passado.

b) Incorreta. Krenak apresenta somente a perspectiva dos povos originários. Além disso, de acordo com o autor, são os indígenas e não os homens brancos que reconhecem a falibilidade do sistema de dominação da natureza pelo ser humano.

c) Correta. Krenak afirma que há “algo na perspectiva dos povos indígenas, em nosso jeito de observar e pensar, que poderia abrir uma fresta de entendimento nesse entorno que é o mundo do conhecimento”. Essa percepção considera que o modo como os indígenas observam e pensam o mundo pode apontar para outras perspectivas não hegemônicas na produção de conhecimento, acerca da relação do homem com a natureza. Os pajés alertam que o “mundo dos brancos está invadindo” a existência dos indígenas, causando desequilíbrio e destruição. Tais alertas foram motivados pela experiência do sonho, a qual indicaria a profundidade da relação de dependência e cooperação que os indígenas mantêm com a natureza, visto que os sonhos seriam mensagens mandadas diretamente pelo mundo natural. Nesse sentido, Krenak rejeita o paradigma predatório do mundo ocidental e promove um conhecimento integrado à natureza como um meio de sobrevivência da espécie humana.

d) Incorreta. A resistência indígena pode ser observada na relação que estabelecem na natureza bem como em seus conhecimentos ancestrais. O sonho dos pajés alertam para o perigo de destruição representado pela chegada dos homens brancos, não havendo a indicação de que eles deixem de ameaçar a existência dos povos originários.