Nota-se em sua obra um sentido de aprofundamento das coisas e dos seres e um uso experimental do idioma que se opõem, de certa forma, aos escritos mais característicos da prosa regionalista, tendendo a superar tanto o mero pitoresco quanto o realismo documental. Por outro lado, embora revele um notável e incomum domínio artesanal, sua linguagem não se confunde com a dos estilistas da Língua. O seu palavreado diferente não é constituído propriamente de vocábulos “difíceis” ou desusados, mas de recriações e invenções forjadas a partir das virtualidades do idioma, que levam o leitor a constantes descobertas. Com seu léxico e sua sintaxe peculiares, não canônicos, mas coerentemente articulados esse(a) autor(a) nos força a uma experiência viva com a linguagem.
(José Paulo Paes e Massaud Moisés (orgs.). Pequeno dicionário de literatura brasileira, 1980. Adaptado.)
Tal comentário refere-se a
a) |
Clarice Lispector. |
b) |
Machado de Assis. |
c) |
Euclides da Cunha. |
d) |
Graciliano Ramos. |
e) |
João Guimarães Rosa. |
a) Incorreta. O texto crítico estabelece uma relação do autor com a prosa regionalista, apontando o pitoresco e o realismo documental; entretanto, esses aspectos não são pertinentes para a análise da obra de Clarice Lispector. A obra dessa autora também não se caracteriza por recriações e invenções lexicais e sintáticas.
b) Incorreta. Os elementos apresentados pelo estudo crítico não são pertinentes para se analisar a obra de Machado de Assis, autor do realismo do século XIX cuja linguagem pode ser considerada canônica e não experimental.
c) Incorreta. Euclides da Cunha, autor do pré-modernismo, apresenta uma linguagem rebuscada, com um estilo característico do final do século XIX, não apresentando os elementos inovadores descritos pelo texto.
d) Incorreta. A linguagem do modernista Graciliano Ramos é marcada pela objetividade com que narra a realidade do sertão nordestino, próxima do realismo documental do qual o autor analisado pelo crítico se distancia.
e) Correta. O texto crítico descreve a linguagem experimental de Guimarães Rosa, escritor da terceira geração modernista. Apropriando-se da fala característica do interior de Minas Gerais, o autor transcende as fronteiras do sertão e alcança universalidade. Nesse sentido, ele se afasta do pitoresco e do realismo documental. Sua linguagem é caracterizada pelo uso de neologismos, pela introdução de elementos extraídos de outros idiomas, pela incorporação de arcaísmos e recriação de expressões populares. Esse trabalho de recriação da língua permite ao autor desvendar o universo humano presente na realidade sertaneja.