Tratava-se agora de construir um ritmo novo. Para tanto, era necessário convocar todas as forças vivas da Nação, todos os homens que, com vontade de trabalhar e confiança no futuro, pudessem erguer, num tempo novo, um novo Tempo. E, à grande convocação que conclamava o povo para a gigantesca tarefa, começaram a chegar de todos os cantos da imensa pátria os trabalhadores: os homens simples e quietos, com pés de raiz, rostos de couro e mãos de pedra, e no calcanho, em carro de boi, em lombo de burro, em paus-de-arara, por todas as formas possíveis e imagináveis, em sua mudez cheia de esperança, muitas vezes deixando pra trás mulheres e filhos a aguardar suas promessas de melhores dias; foram chegando de tantos povoados, tantas cidade cujos nomes pareciam cantar saudades aos seus ouvidos, dentro dos antigos ritmos da imensa pátria... Terra de sol, Terra de luz... Brasil! Brasil! Brasília!
MORAES, V.; JOBIM, A.C. Brasília, sinfonia da alvorada. III - A chegada dos candangos. Disponível em: www.viniciusdemoraes.com.br. Acesso em: 14 ago. 2012 (adaptado).
No texto, a narrativa produzida sobre a construção de Brasília articula os elementos políticos e socioeconômicos indicados, respectivamente, em:
a) |
Apelo simbólico e migração inter-regional. |
b) |
Organização sindical e expansão do capital. |
c) |
Segurança territorial e estabilidade financeira. |
d) |
Consenso partidário e modernização rodoviária. |
e) |
Perspectiva democrática e eficácia dos transportes. |
A inauguração de Brasília, em abril de 1960, foi um do principais feito do governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), sendo um dos aspectos fundamentais do seu Plano de Metas. A cidade foi planejada por Lúcio Costa e Niemeyer e construída em três anos, ficando seus principais prédios prontos nesse período. Sua construção esteve associada a objetivos oficiais, tais como a proposta de integrar as regiões brasileiras, a de constituir um novo polo de desenvolvimento, além de sua localização estratégica e segura. O planejamento da cidade pretendia exaltar sua monumentalidade e associá-la a um período de desenvolvimento e progresso, bem como à ideia de modernidade que Juscelino pretendia imprimir ao país.
O texto da questão sobre a construção de Brasília enfatiza o aspecto simbólico de novidade e modernidade associado à capital. Segundo o autor, tratava-se agora de "construir um rito novo", que pudesse então "erguer num tempo novo, um novo Tempo". Vale ressaltar o esforço feito por Juscelino que esses aspectos de novidade e modernidade estivessem contemplados e associados também à Bossa Nova, expressão que no final da década de 1950 passou a ser sinônimo de atitudes identificadas com o "novo" ou "moderno". JK convidou, inclusive, Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Morais a compor Brasília, sinfonia da Alvorada, para que fosse executada na inauguração da nova capital (no entanto, acabou não ocorrendo). Nesse sentido, podemos afirmar que o texto enfatiza o apelo simbólico da construção da nova capital.
No que se refere aos aspectos socioeconômicos, o texto destaca a migração inter-regional, observada nos trechos "chegar de todos os cantos da imensa pátria os trabalhadores", "foram chegando de tantos povoados, tantas cidades". Trata-se da vinda dos "candangos", os trabalhadores que vieram especialmente do Norte e do Nordeste para a construção da capital, em uma viagem de aproximadamente 45 dias geralmente em carrocerias de caminhões. Esses migrantes dormiam alojados em grandes galpões e as condições de trabalho eram exaustivas, sendo frequentes os acidentes de trabalho.
Sendo assim, o texto apresenta uma narrativa que destaca a necessidade da vinda e empenho desses trabalhadores "em sua mudez cheia de esperança", chegando para construir "um tempo novo, um novo Tempo".