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Questão 81 Enem 2019 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 81

Filosofia Medieval (FSH)

    De fato, não é porque o homem pode usar a vontade livre para pecar que se deve supor que Deus a concedeu para isso. Há, portanto, uma razão pela qual Deus deu ao homem esta característica, pois sem ela não poderia viver e agir corretamente. Pode-se compreender, então, que ela foi concedida ao homem para esse fim, considerando-se que se um homem a usa para pecar, recairão sobre ele as punições divinas. Ora, isso seria injusto se a vontade livre tivesse sido dada ao homem não apenas para agir corretamente mas também para pecar. Na verdade, porque deveria ser punido aquele que usasse sua vontade para o fim para o qual ela lhe foi dada?

AGOSTINHO. O livre-arbítrio. In: MARCONDES, D. Textos básicos de ética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.


Nesse texto, o filósofo cristão Agostinho de Hipona sustenta que a punição divina tem como fundamento o(a)



a)

desvio da postura celibatária.

b)

insuficiência da autonomia moral.

c)

afastamento das ações de desapego.

d)

distanciamento das práticas de sacrifício. 

e)

violação dos preceitos do Velho Testamento.

Resolução

Um dos temas caros à filosofia agostiniana é o tema da liberdade, que inclui os assuntos relacionados à ética, à autonomia e, evidentemente (por se tratar do contexto da filosofia medieval), inclui também a reflexão acerca da relação entre o homem e Deus. Nesse viés, Agostinho argumenta, conforme indica o texto, que o homem é livre para pecar, isto é, livre para contrariar seu Criador, Deus. Entretanto, isso não significa (como também indica o texto da questão) que a liberdade foi concedida ao homem, por Deus, para isso - o cometimento do pecado. Se o homem peca, é porque se rende às paixões, aceitando, assim, ser delas escravo. O processo de pecado, então, é um processo de corrupção, como o autor coloca em suas Confissões. Corrupção, entre outras coisas, da autonomia da moral. Do mais, como todo processo de corrupção é, no pensamento de Agostinho de Hipona, um mal, sofremos por isso, sendo que o sofrimento pode se materializar numa punição divina. Por isso, quando o enunciado diz: "Nesse texto, o filósofo cristão Agostinho de Hipona sustenta que a punição divina tem como fundamento a", ele nos autoriza a assinalar a alternativa B como correta.

Por fim, nada no texto ou no enunciado nos permite julgar as demais alternativas como corretas. "Desvio da postura celibatária", "afastamento das ações de desapego", "distanciamento das práticas de sacrifício" e "violação dos preceitos do Velho Testamento", expressões, respectivamente, das alternativas A, C, D e E, não só não são mencionadas na questão (ou dela não podem ser inferidas) como se inserem num contexto de debate muito específico, já do campo teológico e/ou doutrinal.