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Questão 3 Unesp 2024 - 2ª fase

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Questão 3

Machado de Assis Parnasianismo Prefixal e Sufixal

Para responder às questões de 26 a 28, leia o poema “Círculo vicioso”, de Machado de Assis.

 

Círculo vicioso

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
— “Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

— “Pudesse eu copiar o transparente lume1,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

— “Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!”
Mas o sol, inclinando a rútila capela2:

— “Pesa-me esta brilhante auréola de nume3...
Enfara4-me esta azul e desmedida umbela5...
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?”

(José Lino Grünewald (org.). Grandes sonetos da nossa língua, 1987.)

1 lume: luz, brilho, claridade.
2 rútila capela: cintilante grinalda.
3 nume: ser ou potência divina, divindade.
4 enfarar: entediar.
5 umbela: qualquer objeto ou estrutura em forma de guarda-chuva.


a) Considerando o conteúdo do poema, justifique o seu título (“Círculo vicioso”).
b) Cite uma palavra do poema formada por prefixação e identifique o sentido de seu prefixo.
 



Resolução

a) O conceito “círculo vicioso” pode ser entendido como um encadeamento de ideias, fatos ou problemas o qual retorna sempre ao fato inicial, o que acaba por gerar um impasse, isto é, uma situação sem solução. O título do soneto de Machado de Assis anuncia ao leitor que ele se encontra diante de um círculo vicioso composto pelos personagens dessa pequena fábula. Esse círculo começa com o vaga-lume invejando a luz da estrela, a qual inveja a luz da lua, que, por sua vez, cobiça a luz do sol. O círculo vicioso se conclui quando o sol, insatisfeito com o peso de sua “brilhante auréola de nume”, sente inveja da simplicidade do vaga-lume. Dessa forma, o título se justifica, pois alude ao impasse metaforizado no soneto, qual seja, a eterna insatisfação do ser humano que o faz desejar o que o outro possui.

b) No poema, há algumas palavras que podem ser citadas por serem formadas por processo de prefixação:

“desmedida”: ato que vai além da medida, daquilo que ocorre em excesso, em demasia; no vocábulo, o prefixo ‘des-‘ apresenta o sentido de negação, unindo-se à “medida” para negá-la.

“imortal”: diz-se daquilo que não tem o atributo de ser mortal, daquilo que possui vida eterna; no vocábulo, o prefixo ‘i-‘ apresenta o sentido de negação, unindo-se ao adjetivo “mortal” para negá-lo.

“inquieto”: diz-se daquele que não possui o atributo de ser quieto, sossegado, ou seja, daquele que é agitado, turbulento; no vocábulo, o prefixo ‘in-‘ apresenta o sentido de negação, unindo-se ao adjetivo “quieto” para negá-lo.

“transparente”: diz-se daquilo que permite a passagem da luz, ou seja, daquilo que permite “aparecer” para além de algo; no vocábulo, o prefixo ‘trans-‘ apresenta o sentido de “através de, para além de”, unindo-se a “(a)parente” para agregar-lhe sua significação.

“contemplou”: ação de quem observa com atenção, com admiração, reflexão; no vocábulo, o prefixo ‘com-‘ apresenta o sentido de ‘estar junto’, unindo-se a “templo” para construir o sentido do ato de se estar junto do templo (um espaço aberto amplo, geralmente dedicado a uma divindade).