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Questão 7 Unesp 2024 - 2ª fase

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Questão 7

Gêneros Textuais O imperativo e o emprego de suas formas Pronomes possessivos

Para responder às questões 31 e 32, leia o trecho do ensaio “A corrida armamentista do consumo”, do economista e filósofo Eduardo Giannetti.

    Imagine uma corrida em que os contendores se afastam cada vez mais do objetivo pelo qual competem. A corrida armamentista stricto sensu tem dinâmica e propriedades conhecidas: um país, por qualquer motivo, decide se armar; os países vizinhos sentem-se vulneráveis e decidem fazer o mesmo a fim de não ficarem defasados; sua reação, porém, deflagra uma nova rodada de investimento bélico no primeiro país, o que obriga os demais a seguirem outra vez os seus passos. A escalada armamentista leva os participantes a dedicarem uma parcela crescente da sua renda e trabalho à garantia da segurança externa, mas o resultado é o contrário do pretendido. O objetivo da máxima segurança redunda, ao generalizar-se, na insegurança geral — um tênue e onipresente equilíbrio armado do terror.

    A corrida armamentista do consumo tem uma lógica semelhante. Nenhum consumidor é uma ilha: existe uma forte e intrincada interdependência entre os anseios de consumo das pessoas. Aquilo que cada uma delas sente que “precisa” ou “não pode viver sem” depende não só dos seus “reais desejos e necessidades” (como se quiser defini-los), mas também — e, talvez, sobretudo, ao menos nas sociedades mais afluentes — daquilo que os outros ao seu redor possuem. Ocorre, contudo, que a cada vez que um novo artigo de consumo é introduzido no mercado e passa a ser usado, desfrutado ou ostentado por aqueles que pertencem ao nosso grupo de referência — restrito a amigos, parentes e vizinhança no passado, hoje expandido pelo big bang das mídias, blogs e redes digitais — o equilíbrio se rompe e o desconforto causado pela percepção da falta atiça e impele, como ardência de queimadura, à ação reativa da compra do bem. Porém, quando todos se empenham em alcançar os que estão em cima — ou ao menos não ficar demasiado atrás deles —, eles passam a trabalhar mais (e/ou se endividar) a fim de poder gastar mais, ao passo que o maior nível de gasto e consumo se torna, por sua vez, “o novo normal”. A lógica da situação obriga-os a correr cada vez mais depressa, como hamsters confinados a esferas rotatórias, para não sair do lugar. Todos pioraram em relação ao status quo ante, pois agora precisam ganhar mais (e/ou estão mais endividados), e nenhum dos envolvidos, a não ser que adote a opção radical de se tornar um “excêntrico” e “pular fora do carrossel”, consegue isoladamente escapar da armadilha.

(Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016. Adaptado.)


a) O que o autor entende por “corrida armamentista do consumo”? De que imagem (ou alegoria) o autor se vale no segundo parágrafo para ilustrar a dinâmica dessa corrida armamentista do consumo?

b) Transcreva um pequeno trecho do texto em que o narrador se dirige diretamente a seu leitor. Justifique sua escolha.



Resolução

a) Segundo o autor, a corrida armamentista do consumo se vale de uma lógica de ter o objetivo inicial de uma ação corrompido pelas suas consequências. Como na corrida armamentista, em que a segurança objetivada se dissolve com o consequente terror criado pela disseminação de armas, a corrida armamentista do consumo resulta na piora da condição financeira e, consequentemente, da qualidade de vida do consumidor. O desejo pelo consumo, aponta o autor, é fruto de uma "necessidade" criada ao ver o objeto de consumo sendo utilizado e ostentado por terceiros. Procurando, então, suprir essa necessidade, o indivíduo o adquire. No entanto, para manter-se saciado, o indivíduo precisa se propor a uma maior rotina de trabalho, já que seu custo de vida aumentou. Presos na alegoria, trazida pelo autor para ilustrar a dinâmica da corrida armamentista do consumo, do hamster que corre sem sair do lugar em esferas rotatórias, o consumidor acredita estar cada vez mais perto das pessoas-modelo (grupos de referência) de consumo, sendo que, na verdade, continua performando o mesmo papel social na cadeia de consumo: de mero consumidor. 

b) O autor se refere ao leitor nos seguintes trechos: "Imagine uma corrida em que os contendores se afastam cada vez mais do objetivo pelo qual competem" e "Ocorre, contudo, que a cada vez que um novo artigo de consumo é introduzido no mercado e passa a ser usado, desfrutado ou ostentado por aqueles que pertencem ao nosso grupo de referência [...]".

A primeira citação possui o verbo imaginar no imperativo ("Imagine [você]"), ordenando que o leitor se proponha ao movimento imaginativo. 

A segunda citação inclui o leitor diretamente quando usa a 1º pessoa do plural, "nós", de forma a dizer que possuem o mesmo grupo de referência.