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Questão 2 Unesp 2024 - 2ª fase

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Questão 2

Revoluções Inglesas

A Inglaterra de 1603 era uma potência de segunda classe; a Grã-Bretanha de 1714 era a maior potência mundial. [...] os hábitos alimentares dos ingleses transformaram-se com a introdução de raízes comestíveis, o que permitiu manter o gado vivo e ter carne fresca no inverno. Foi introduzida a batata, além de muitos novos cultivos, como o chá, o café, o chocolate, o açúcar e o tabaco. [...] A peste foi frequente na primeira metade do século, mas já estava extinta no final dele. A moderna combinação de refeições — café da manhã, almoço e jantar — data do século XVII; também nesse mesmo século surgiu o padrão moderno dos trajes masculinos — casaco, colete, bombachas. Saiu o couro; entraram o morim, o linho e a seda na confecção de vestuário. No final do século, a cerâmica e o vidro utilizados à mesa já haviam substituído o estanho e a madeira; muitas famílias usavam facas, garfos, espelhos e lenços de bolso; em Chatsworth, o duque de Devonshire instalou uma sala de banho com água corrente — quente e fria.

Em 1603, todos os cidadãos ingleses — homens e mulheres — foram considerados membros da Igreja Oficial, e dissidência era delito passível de punição. Heréticos ainda eram queimados na fogueira; suspeitos de traição eram torturados. Em 1714, a dissidência protestante era oficialmente tolerada: a Igreja não mais podia condenar ninguém à fogueira, o Estado não mais podia submeter ninguém à tortura.

(Christopher S. Hill. O século das revoluções: 1603-1714, 2012.)


a) Indique dois motivos internos à Grã-Bretanha que contribuíram para algumas das mudanças citadas no excerto.

b) Indique dois motivos que contribuíram para que a Inglaterra se transformasse de “potência de segunda classe” na “maior potência mundial”.



Resolução

a) O texto destaca a introdução de uma série de novos produtos na rotina e nos costumes dos britânicos, muitos originários de partes distantes do planeta, como o chá, a batata e o café. O consumo dessas novas mercadorias esteve diretamente relacionado ao desenvolvimento do comércio no país, especialmente durante os séculos XVI e XVII. Por sua vez, o sucesso comercial alcançado nesse período decorreu das mudanças políticas associadas à consolidação da centralização política na Inglaterra. Essas mudanças interromperam conflitos característicos do feudalismo, como a Guerra das Duas Rosas (1455-1485), e unificaram regiões sob o comando da dinastia Tudor. Outra mudança interna diretamente ligada às transformações mencionadas no texto é a disseminação de ideias associadas ao emergente Iluminismo no país, especialmente ao pensamento de John Locke. Defensor de conceitos como os Direitos Naturais dos seres humanos e da função do Estado na preservação dessas liberdades, suas ideias moldaram a discussão política britânica na transição do século XVII para o XVIII. Isso permitiu a adoção de princípios como o Bill of Rights e o Toleration Act, ambos de 1689. Este último documento assegurou tolerância religiosa para protestantes dissidentes na Grã-Bretanha, marcando uma significativa alteração na conduta interna da Igreja Anglicana. Afinal, tal tolerância contrasta de maneira notável se comparado ao violento período de perseguições religiosas associado ao Absolutismo Tudor.

b) Um dos fatores que contribuíram para a ascensão da Grã-Bretanha à "condição de maior potência mundial" foi a eclosão e o triunfo das Revoluções Inglesas (1640-1688). Esse evento consagrou o poder político da burguesia mercantil ao consolidar o modelo de monarquia parlamentar. As Revoluções confrontaram a ascendente burguesia, representada principalmente pelos membros do parlamento, à nobreza cortesã e ao absolutismo inglês, que, nesse contexto histórico específico, atrasavam o desenvolvimento econômico dos mercadores. Com o sucesso das Revoluções e a derrota do modelo absolutista, a Inglaterra promulgou o Bill of Rights (1689), dispositivo que garantia a primazia do parlamento em questões cruciais para a burguesia, como a imposição de tributos e o envolvimento em guerras. Esse evento histórico, de maneira mais abrangente, propiciou o desenvolvimento comercial e econômico da nação, permitindo que o país ascendesse como a "maior potência mundial". Outro fator interno que contribuiu para a ascensão da Grã-Bretanha à "condição de maior potência mundial" foi a promulgação dos Atos de Navegação em 1651 por Oliver Cromwell. Essa medida estipulava que os produtos importados pela Grã-Bretanha deveriam ser transportados por embarcações inglesas ou pelos navios do país de origem dos produtos. Essa restrição limitou a participação da marinha mercante de nações concorrentes, principalmente os Países Baixos. Essa medida garantiu uma proteção significativa de mercado aos comerciantes ultramarinos ingleses, oferecendo condições políticas e econômicas para o seu desenvolvimento na época. Como resultado, a Inglaterra desenvolveu uma marinha mercante de poder notável no século XVIII, promovendo um maior desenvolvimento econômico e possibilitando acesso a mercadorias e mercados até então desconhecidos pela população inglesa, conforme mencionado no texto.