Analise a imagem e leia o excerto.
Há 40 anos, as primeiras Mães da Praça de Maio — como só ficariam conhecidas depois — saíram a reclamar a reaparição, com vida, de seus filhos sequestrados. Naquele já distante 30 de abril de 1977, elas compunham um grupo de apenas 14.
Depois de perguntar inutilmente pelos jovens em delegacias, repartições do Estado, igrejas, hospitais e de pedir ajuda, inutilmente, aos grandes jornais e meios televisivos, elas decidiram que marchariam todas as quintas-feiras, às 15h30, com panos brancos envolvendo a cabeça, diante da Casa Rosada — sede do governo argentino.
O fato de serem logo identificadas como “as Loucas da Praça de Maio” diz muito não apenas sobre o machismo da sociedade argentina daquele tempo, mas também sobre o alto teor de cumplicidade, medo ou covardia de grande parte dos argentinos diante de um problema que ia-se fazendo cada vez mais presente: dia após dia corriam boca a boca novas histórias de pessoas que iam sendo sequestradas pelos agentes da repressão da ditadura militar (1976-1983).
Neste aniversário de 40 anos da luta das Mães, vale lembrar esse detalhe que parece uma piada de mau gosto: o fato de terem sido chamadas de “loucas” por um bom tempo. Essa lúgubre anedota é sinal de que essas mulheres não sofreram apenas a perda dos filhos, mas também o preconceito e o menosprezo por parte de muitos. Nos dias de hoje, em que voltaram a surgir vozes que questionam o número de mortos e que tentam minimizar os horrores do regime, parece que esse adjetivo pejorativo de 40 anos atrás volta a ganhar vida.
(Sylvia Colombo. “No começo, eram as Loucas da Praça de Maio”, 30.04.2017. www.folha.uol.com.br.)
a) Identifique, no excerto, o objetivo do movimento das “Mães da Praça de Maio” e uma reação de parte da sociedade aos protestos por elas realizados.
b) Contextualize a situação política dominante no Cone Sul da América nos anos 1970 e indique um acontecimento essencial para a mudança política na Argentina no início dos anos 1980.
a) Segundo o excerto, as Mães da Praça de Maio tinham como objetivo exigir a reaparição, com vida, de seus filhos sequestrados. Diante do silêncio das autoridades, que não forneceram as respostas esperadas, essas mulheres iniciaram marchas semanais próximas à Casa Rosada, sede do governo argentino. No entanto, a resposta da sociedade a esses protestos foi hostil e marcada por um notável machismo, rotulando-as pejorativamente como "as Loucas da Praça de Maio". Esse estigma evidencia a resistência e a rejeição sociais em relação às legítimas reivindicações das Mães da Praça de Maio, que buscavam justiça e esclarecimentos sobre o paradeiro de seus filhos desaparecidos.
b) Na década de 1970, a realidade política predominante no Cone Sul da América era marcada pela existência e ascensão das Ditaduras Militares, instauradas com a anuência política dos Estados Unidos. Esses regimes autoritários, baseados na Doutrina de Segurança Nacional, estabeleceram um cenário político caracterizado por repressão, censura e violações dos direitos humanos em países como Brasil, Chile e Argentina. A cooperação entre esses governos era evidente e visava, principalmente, criar uma rede para reprimir movimentos considerados subversivos, ignorando flagrantemente os direitos humanos e as liberdades individuais.
No contexto específico da Argentina, um evento crucial para a mudança política ocorreu no início dos anos 1980: a Guerra das Malvinas. Desencadeado em 1982, este conflito, travado entre Argentina e Reino Unido pela posse das ilhas Malvinas, teve implicações profundas na economia e no governo militar argentino. A derrota neste embate foi diretamente associada ao declínio do regime militar então vigente, uma vez que não apenas minou a legitimidade do governo perante a população, mas também exacerbou as tensões internas politicamente, contribuindo para enfraquecer o poder militar e abrir caminho para o retorno à democracia.