Era a Índia que nos sustentava nas dificuldades de nossas circunstâncias. Era um aspecto de nossa identidade, da identidade comum que tínhamos desenvolvido e que, na Trinidad multirracial, se tornara uma identidade racial.
Era essa a identidade que eu levara para a Índia em minha primeira visita em 1962. Ao chegar, percebi que isso nada significava na Índia. A ideia de uma comunidade indiana — na verdade uma ideia europeia de nossa identidade indiana — apenas tinha sentido quando a comunidade era muito pequena, minoritária e isolada. Na torrente da Índia, com suas centenas de milhões, onde a ameaça eram o caos e o vazio, essa noção europeia em nada ajudava.
(V.S. Naipaul. Índia: um milhão de motins agora, 1997.)
O excerto traz o relato de um escritor de ascendência indiana, nascido em Trinidad e Tobago, quando de sua primeira viagem para a Índia. Segundo ele, há
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um impasse sociopolítico na Índia atual, pois o país teve um passado glorioso, mas não conseguiu se reorganizar política e economicamente após o fim do domínio colonial britânico sobre a região. |
b) |
uma continuidade entre a Índia do período de colonização europeia e a Índia independente, pois os indianos que vivem dentro e fora do país sentem-se pertencentes ao mesmo grupo nacional-identitário. |
c) |
uma identidade comum de origem religiosa, que se manifesta de maneira igual no conjunto de indianos que vivem na Índia e nas comunidades de descendentes de indianos organizadas em outros países. |
d) |
um descompasso entre a percepção da Índia que se tem de fora do país asiático, e que é afetada por valores nacionais de origem europeia, e a percepção que os próprios indianos têm de seus vínculos sociais |
e) |
uma ruptura entre o passado histórico indiano, que se associa ao domínio político-militar que o país exerceu sobre o subcontinente asiático, e o presente de superpopulação provocada pela colonização europeia. |
a) Incorreta. O excerto em questão não está se referindo a Índia atual, mas a primeira visita do autor ao país em 1962. Também não há nenhuma referência ao país não conseguir se reorganizar política e economicamente após o processo de independência frente aos britânicos, em 1947.
b) Incorreta. Ao contrário do que a alternativa está afirmando, o autor do excerto afirma que, embora os europeus consideram a índia uma só nação, internamente os próprios indianos consideram múltiplas identidades, fato que caracteriza uma série de descontinuidades e não uma total continuidade, conforme a alternativa propõe.
c) Incorreta. Embora o autor do excerto tenha afirmado que de fora da índia ele achasse que haveria uma uniformidade étnico-religiosa no país, na realidade ele encontrou exatamente o contrário.
d) Correta. O autor do excerto justamente afirma que antes de visitar a Índia tinha uma visão marcadamente influenciada por valores europeus sobre uma uniformidade do povo indiano, fato que foi completamente desmentido quando de sua primeira visita ao país em 1962.
e) Incorreta. Não há nenhum elemento do excerto que possa justificar a afirmação de que na época da colonização britânica, entre os séculos 18 e 20, havia um domínio político-militar sobre o continente e que com a independência, em 1947, isso tenha sido perdido por causa da superpopulação provocada pela colonização europeia. Mesmo que seja possível fazer alguma inferência histórica sobre essas questões, o excerto não os aborda.