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Questão 55 Unesp 2024 - 1ª fase

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Questão 55

Filosofia da Ciência

Não existe definição objetiva, nem muito menos neutra, daquilo que é ou não a ciência. Esta tanto pode ser uma procura metódica do saber quanto um modo de interpretar a realidade; tanto pode ser uma instituição, com seus grupos de pressão, seus preconceitos, suas recompensas oficiais, quanto uma atuação subordinada a instâncias administrativas, políticas ou ideológicas. Se perguntarmos sobre o modo de funcionamento da ciência, sobre seu papel social, sobre sua maneira de explicar os fenômenos e de compreender o ser humano no mundo, perceberemos facilmente que as condições reais em que são produzidos os conhecimentos objetivos e racionalizados estão banhadas por uma inegável atmosfera sócio-político-cultural.

(Hilton Japiassu. O mito da neutralidade científica, 1975. Adaptado.)


A consideração de Hilton Japiassu em relação à neutralidade da ciência destaca



a)

a inexistência de método seguro.

b)

o enviesamento do fazer científico

c)

a falta de recursos materiais nas pesquisas.

d)

a submissão do saber ao senso comum.

e)

o rompimento com o dogmatismo religioso.

Resolução

A questão traz um tema clássico das provas da Unesp: a filosofia da ciência. A banca sempre opta por fazer o concorrente pensar sobre as relações da ciência com o "mundo real", para além das portas dos laboratórios. Nessa edição, levou o aluno a refletir sobre a dita "neutralidade científica". Vejamos:

a) Incorreta. Não há que se falar em "inexistência de um método [científico] seguro". As diversas ciências produzem muitos trabalhos de excelência em qualidade, o que pressupõe o desenvolvimento de métodos confiáveis. Isso não altera, porém, o fato de que nenhuma ciência consegue ser plenamente neutra, como indicará o gabarito.

b) Correta. A ideia de uma ciência neutra foi amplamente difundida e, mais que isso, defendida como possível, no século XIX. Os positivistas europeus do período alçaram os trabalhos científicos no pedestal da impessoalidade. O século XX, entretanto, destruiu essa quimera, através de trabalhos no campo da antropologia ou da filosofia da ciência, por exemplo. As análises mais recentes do assunto, nas ciências humanas, deixam claro que mesmo as chamadas “ciências exatas” são enviesadas, seja por questões econômicas ou políticas, por exemplo (revelando aspectos estruturais de influência na produção científica), ou por aspectos de escolha individual (na medida em que fazemos um recorte de determinados assuntos, mostramos características que, antes de estarem na ciência, estão em nós, seus produtores). É justamente essa a reflexão que o exercício nos traz.

c) Incorreta. Os recursos materiais, em muitas pesquisas, não faltam – como sugere a redação do item. É justamente por isso, diga-se de passagem, que o enviesamento científico é possível – na medida em que os financiadores da ciência direcionam as pesquisas científicas. Assim, não necessariamente, o resultado é comprometido – não é disso que se trata, fundamentalmente. Antes, enfatizamos, o pano de fundo é outro: a rota, que segue, na produção dos trabalhos desenvolvidos pelos cientistas.

d) Incorreta. Ciência e senso comum são tipos de conhecimento muito diferentes. Tal diferença já era bem conhecida pelos gregos, que falavam em “episteme” e “doxa”. Episteme seria um tipo de conhecimento rigoroso e sistemático, caracterizado por metodologias e técnicas específicas, tal qual a ciência dos nossos dias. Por sua vez, doxa equivaleria à opinião, ou seja, qualquer tipo de saber espontâneo e não metódico, tal qual o senso comum.

e) Incorreta. De fato, a ciência rompe com o dogmatismo religioso. Todavia, esse não é o teor do texto e, sendo assim, não cumpre o pedido do enunciado, motivo pelo qual a redação do item não pode ser correta.