A uberização nomeia um novo tipo de gestão e controle da força de trabalho, também compreendida como uma tendência passível de se generalizar no âmbito das relações de trabalho. […] Resultando das formas contemporâneas de eliminação de direitos, transferência de riscos e custos para os trabalhadores e novos arranjos produtivos, ela em alguma medida sintetiza processos em curso há décadas, ao mesmo tempo em que se apresenta como tendência para o futuro do trabalho. O tema ganha visibilidade com a formação de enormes contingentes de trabalhadores controlados por empresas que operam por meio de plataformas digitais.
(Ludmila Costhek Abílio et al. “Uberização e plataformização do trabalho no Brasil: conceitos, processos e formas”. Sociologias, 2021.)
O excerto aborda as novas relações trabalhistas mediadas por plataformas digitais. Com tais relações, nos próximos anos o futuro do trabalho será definido pela
a) |
autogestão do trabalhador na relação com grandes empresas. |
b) |
queda na geração de vagas no setor informal. |
c) |
persistência de mecanismos de exploração. |
d) |
extinção de postos de serviço no setor primário. |
e) |
flexibilidade na jornada de trabalho do profissional não autônomo. |
Discute-se, na questão, "o futuro do trabalho" - essa é a expressão contida no enunciado. Ademais, a abordagem ganhou entornos marxistas, como se depreende pelo texto. Sabendo disso, não fica difícil eleger a alternativa "c" como alternativa correta; vejamos o porquê.
a) Incorreta. As relações de trabalho no mundo do capital não são marcadas pela "autogestão do trabalhador". Às vezes - e esse é o caso da "uberização" - essa máscara reveste algumas relações de trabalho. Tão logo a máscara cai, porém, despe-se a face real do modo de produção capitalista: os não detentores dos meios de produção continuam servindo aos detentores dos meios de produção - como acontece com os motoristas de aplicativo.
b) Incorreta. As previsões dos sociólogos, quanto ao mercado de trabalho informal, é outra: imagina-se que ele irá crescer, e não diminuir, como se supõe no item. Ricardo Antunes, por exemplo, é um dos que fazem esse prognóstico. Professor de Sociologia da Unicamp, há muito fala sobre as explorações dessa nova massa de proletários urbanos do século XXI - massa que inclui os motoristas de aplicativo, objetos de reflexão do texto.
c) Correta. Os mecanismos de exploração permanecerão e, sendo assim mais sutis, aumentarão o fetichismo das relações mercantis. De outro modo: a sutileza da exploração das relações de trabalho no século XXI, através de tecnologias diversas, faz com que o trabalhador tenha ainda mais dificuldade de se perceber como explorado.
d) Incorreta. O setor primário pode até ter diminuição dos seus postos de serviço, mas eles não serão extintos, como sugere o item.
e) Incorreta. A redação do item carece de lógica interna: fala de flexibilização na jornada de trabalho do trabalhador autônomo - um contra senso, na visão sociológica. Repetimos: no máximo, cria-se uma ideia de flexibilização; o cordão umbilical de exploração (a propriedade privada), entretanto, permanece rígido, como sempre.