Leia um trecho da história em quadrinhos “Asterios Polyp”, de David Mazzucchelli.
(Asterios Polyp, 2011. Adaptado.)
O pensamento resulta da atividade neurológica do cérebro. A enorme maioria dos neurônios que formam o cérebro não é renovada ao longo da vida porque esses neurônios
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são desprovidos de centríolos. |
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mantêm todos os genes inibidos. |
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são incapazes de formar microtúbulos. |
d) |
permanecem na fase G0 da interfase. |
e) |
sofrem apoptose celular.
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Os neurônios são células alongadas e ramificadas que fazem parte do sistema nervoso e são especializadas no recebimento e transmissão de informações entre diferentes tecidos e órgãos do corpo. Diferente de outras células como, por exemplo, as células epiteliais que formam a epiderme, camada superior da pele, os neurônios não são células capazes de se dividir por mitose e, portanto, são incapazes de passar pelo processo de renovação celular. A partir desses conhecimentos iniciais, a análise de cada afirmativa é feita a seguir.
a) Incorreta. Os neurônios são células animais e, portanto, são células eucarióticas, obrigatoriamente. Este tipo de célula é caracterizado pela presença de núcleo delimitado por envoltório nuclear, além de diversas organelas como ribossomos, retículo endoplasmático, complexo golgiense, lisossomos, mitocôndrias, centríolos, citoesqueleto complexo e bem desenvolvido. Com exceção das células eucarióticas das plantas fanerógamas, a maioria das células dos seres vivos eucariontes possui centríolos. Desse modo, os neurônios são células dotadas de centríolos e é incorreto afirmar que estas células são desprovidas destas estruturas citoplasmáticas. Os centríolos são estruturas cilíndricas formadas por 9 trincas de microtúbulos, fibras proteicas formadas pela polimerização de subunidades de tubulina (figura 1). Os centríolos participam da divisão celular e da formação das fibras que se ligam aos cromossomos, permitem a divisão equitativa do material genético durante este processo.
Figura 1. Estrutura dos centríolos e a presença de microtúbulos pelo citoplasma de uma célula eucariótica. Fonte: Sônia Lopes, Sérgio Rosso. Bio 1: Conecte live. 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018
b) Incorreta. Genes inibidos são genes que não sofrem transcrição nem tradução, ou seja, não geram moléculas de RNAmensageiro (RNAm) e tampouco sintetizam proteínas a partir da leitura deste RNAm pelos ribossomos. O neurônio é um tipo celular com enorme atividade energética, já que depende de grande quantidade de ATP (adenosina trifosfato) para fornecer energia para fenômenos como propagação do impulso nervoso, movimentação e secreção de vesículas contendo neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina. Além disso, nos neurônios é intensa a expressão e ativação de genes e transportadores iônicos proteínas de membrana, por exemplo. Desse modo, é totalmente incorreto afirmar que o neurônio mantém todos os genes inibidos, pois se tal fenômeno ocorresse, a célula estaria incapaze de realizar qualquer tipo de atividade essencial para a vida.
c) Incorreta. Os microtúbulos são extensas fibras proteicas formadas por tubulina que podem ser polimerizadas ou despolimerizadas, conforme a necessidade e demanda celular. São componentes do citoesqueleto, o qual exerce diversas funções na célula como: formação das fibras polares que participam da divisão celular, formação de cílios e flagelos e movimentação de vesículas diversas, como aquelas formadas a partir do complexo golgiense e destinadas para a secreção celular. Portanto, embora os neurônios não formem fibras para divisão celular nem possuam cílios, os neurônios são células com intenso tráfego de vesículas contendo neurotransmissores, que se deslocarão do corpo celular até a extremidade do axônio, culminando na liberação de neurotransmissores na fenda sináptica. Dessa forma, é incorreto afirmar que os neurônios são incapazes de formam microtúbulos.
d) Correto. A interfase corresponde ao período do ciclo celular no qual estão as células que não estão realizando a divisão (mitose ou meiose). Usualmente, consiste em um período de intensa atividade metabólica que inclui processos que preparam a célula para o vindouro processo de divisão. Como trata de um período longo, a interfase é subdivida em três períodos: G1 (gap 1 = intervalo 1), S (síntese) e G2 (gap 2). Os períodos G1 e G2 incluem elevadas taxas de transcrição e tradução, além de duplicação de organelas e aumento do volume celular. O período S é caracterizado por ser o mais longo, porque é nele que ocorre a replicação semiconservativa do DNA, meticulosa atividade na qual todas as sequências de nucleotídeos do DNA devem ser precisamente copiadas (figura 2). Entretanto, algumas células não possuem a interfase subdivida em períodos G1, S e G2, afinal estas células não fazem divisão celular e, portanto, não precisam se preparar para esse fenômeno. É o que ocorre com os neurônios, células altamente especializadas que não se dividem e que permanecem em G0, uma modificação da interfase que ocorre em células que são incapazes de se dividir.
Figura 2. Ciclo celular. BIOLOGIA de Campbell. Coautoria de Lisa A. Urry et al. 12. ed. Porto Alegre, RS: ArtMed, 2022. E-BOOK. (1 recurso online). ISBN 9786558820680. Acesso em: 15 nov. 2023.
e) Incorreto. A apoptose consiste em um processo de morte celular programada que promove destruição da célula e interrupção de qualquer atividade metabólica que esta célula realizava anteriormente. Caso as células neuronais passassem por apoptose, estariam mortas e não realizariam o recebimento e transmissão de informações como fazem normalmente e que são mecanismos fundamentais para manutenção da vida.