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Questão 10 Fuvest 2024 - 2ª fase - dia 1

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Questão 10

Tomás Antônio Gonzaga intertexto

Na sua análise de O embarque para a ilha de Citera (cerca de 1712), de Antoine Watteau, Norbert Elias afirma que “em contraste com o jogo de luz e sombra claro-escuro enevoado que domina todo o quadro, está a luminosidade do sol poente, a radiante claridade à direita, no fundo. Isso confere um caráter de inquietude à composição. E, em contraste com a tranquilidade do antigo jardim com as copas verde-escuras das árvores e sua doce serenidade, a surda movimentação do cortejo dos amantes torna-se ainda mais intensa à medida que aqui, nessa claridade, os contornos de algo desconhecido, que não se deixa conhecer, perfis de construções que, precisamente por reluzirem como sombras através da névoa clara e radiosa, provocam um ligeiro arrepio, como sinal de perigo”.

 

 

 


a) Quais são as semelhanças entre a tela de Watteau e a Lira X de Tomás Antonio Gonzaga?

b) De que forma é descrito o “personagem” do poema?



Resolução

a) A obra de Antoine Watteau é conhecida como “Fête Galante”, dado que retrata uma "festa ao ar livre". O tema do quadro é a visita que as personagens retratadas na pintura fazem à ilha de Citara, a qual, na Antiguidade, abrigava o templo da deusa Afrodite. Vê-se à direita da pintura a deusa do amor e à esquerda o barco do amor. A cena acontece ao final do dia, durante o pôr do sol. Vários cupidos sobrevoam os casais apaixonados. Entre o quadro e o poema de Gonzaga, temos como primeira semelhança a figura do Cupido, personagem descrito no poema e presente na obra. A temática amorosa é outra semelhança entre as obras. O contraste também é uma semelhança: no quadro, o jogo de luz e sombra descrito por Norbert Elias fica evidente em razão do sol poente, cuja luminosidade alcança a direta da pintura, mas a esquerda do quadro é escurecida com as copas das árvores; no poema, o Amor contrasta com o ardiloso Cupido, que "respira negros venenos". O elemento desconhecido que indica perigo iminente é outra semelhança entre as obras: no quadro, através da névoa clara e radiosa, os contornos de algo desconhecido indicam sinal de perigo; no poema, o Cupido se esconde não se sabe onde, mas é necessário fugir dele antes que seja tarde e sejamos açoitados por suas setas.

b) De acordo com as convenções clássicas em torno da representação do Cupido, o deus do Amor, o poeta o descreve como ardiloso e tirânico, explorando suas contradições. Trata-se de um alerta àqueles que desconhecem a ação maléfica do amor. Na primeira estrofe, o eu lírico já alerta para que se fuja apressado do "vil traidor". Na segunda estrofe, o Cupido é "ímpio" e se esconde não se sabe onde. Na terceira estrofe, o Cupido é o "tirano". Na quarta estrofe, o poeta passa a explorar as contradições do Cupido, que, apesar de ter um corpo de menino, é implacável e “ninguém resiste ao braço seu”. Na quinta estrofe, o contraste é evidenciado pela descrição de seu corpo belo e de seus cabelos  lindos, mas, mesmo de olhos vendados, suas setas sempre atingem o alvo. Na sexta estrofe, as faces do Cupido são brancas como a neve, a boca tem sorrisos, mas ele respira venenos invisíveis aos olhos dos amantes.