Tabela elaborada a partir dos dados disponíveis em: GIAMBIAGI, F. et alii. (orgs.). Economia Brasileira Contemporânea. Rio de Janeiro: Campus, 2005, p. 247.
A partir dos indicadores macroeconômicos selecionados, responda:
a) Qual indicador da tabela justifica o argumento de que, à época, o Brasil vivia um “milagre econômico”?
b) Compare as taxas de crescimento do PIB brasileiro com as taxas de crescimento do PIB nos conjuntos “América Latina” e “mundial”, referidos na tabela, e caracterize o comportamento da inflação no período de 1968 a 1973.
c) Por que o chamado milagre econômico não foi acompanhado pelo aumento do poder aquisitivo das camadas sociais mais pobres? Indique dois motivos.
a) O indicador do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) foi o utilizado para justificar o chamado “milagre econômico” brasileiro, ocorrido principalmente ao longo do governo Médici (1969-1974). Conforme mostra a tabela, enquanto o crescimento do PIB mundial esteve entre 6,9% (1969) e 8,4% (1974), os índices brasileiros estiveram em um nível bem acima da média mundial, pois em 1968 foi da ordem 9,8% e 1974 de 14%.
b) Ao compararmos o crescimento do PIB brasileiro no período entre 1968 e 1974, podemos observar que ele estava acima do crescimento mundial, pois em 1969 o PIB mundial foi de 6,9% e em 1974 foi de 8,4%. O PIB nacional também estava acima dos valores de crescimento da América Latina, pois aquela região cresceu 6,9% em 1968 e 8,4% em 1974. Já em relação a inflação, podemos afirmar que ela esteve em patamares relativamente altos na referida época, pois em 1968 ela atingiu a marca de 25,5% (lembremos aqui, a título de comparação, que em 2022, a inflação acumulada no Brasil foi de 5,79%) e, embora tenha sido declinante, em 1974 ainda estava na casa dos 15,5%.
c) O chamado “milagre brasileiro” (1969-1973) esteve ligado ao projeto do governo ditatorial brasileiro do período, cujo presidente foi Emílio Médici (1969-1974), e teve suas medidas mais importantes ligadas ao ministro do planejamento Delfim Neto. O referido ministro conseguiu uma série de empréstimos tomados ao FMI (Fundo Monetário Internacional) com juros considerados baixos e os investiu no setor de infraestrutura, criando grandes obras, tais como hidroelétricas, sistema de telecomunicações e transportes. Além disso, houve também um importante aporte de capital estrangeiro, especialmente no setor de bens duráveis, além de importante crescimento da construção civil e setor bancário nacional. A soma desses fatores levou ao crescimento do PIB e a economia brasileira chegou ao posto de oitava economia do mundo. O governo Médici, inclusive, tentou alardear tais números, criando uma propaganda ufanista em relação a eles, tais como as frases "Pra frente Brasil!" ou "Brasil: ame-o ou deixe-o!". Porém, grande parte desse enriquecimento do país acabou concentrado nas mãos das elites nacionais ou estrangeiras, uma vez que a média salarial do período foi uma das mais baixas da história do Brasil. Em 1963, os 10% mais ricos detinham 39% da renda. Já em 1980, os mesmos 10% mais ricos avançaram para deter 48% da renda. O índice GINI, que mede a concentração da riqueza em um país, subiu de aproximadamente 0,53 no início dos anos 1960, para quase 0,60 no final dos anos 1980. Nesse sentido, o regime ditatorial que vigorava no Brasil foi importante para que o empresariado pudesse deixar os salários aos níveis mais baixos e pudessem ampliar seus lucros. Um fato que revela esse mecanismo, foi que entre 1968, quando começou a vigorar ao Ato Institucional número 5, e 1978, quando ele foi extinto, não houve praticamente nenhuma greve de trabalhadores. Uma última questão que poderia ser levantada está relacionada ao processo inflacionário, uma vez que o crescimento da inflação sem a devida correção monetária dos salários, acabava levando a perda de poder de compra aos trabalhadores.