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Questão 2 Fuvest 2024 - 1ª fase

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Questão 2

Interpretação de Textos poesia e música

Tempo de nos aquilombar

É tempo de caminhar em fingido silêncio,
e buscar o momento certo no grito,
aparentar fechar um olho evitando o cisco
e abrir escancaradamente o outro.

É tempo de fazer os ouvidos moucos
para os vazios lero-leros,
e cuidar dos passos assuntando as vias,
ir se vigiando atento, que o buraco é fundo.

É tempo de ninguém se soltar de ninguém,
mas olhar fundo na palma aberta
a alma de quem lhe oferece o gesto.
O laçar de mãos não pode ser algemas,
e sim acertada tática, necessário esquema.

É tempo de formar novos quilombos,
em qualquer lugar que estejamos
e que venham dias futuros, salve 2020
A mística quilombola persiste afirmando:
“a liberdade é uma luta constante”.

Conceição Evaristo. Jornal O Globo, 31/12/2019.


Considerando o enfoque do texto na denúncia social, o eu lírico revela, predominantemente,



a)

a crítica às reações da nossa sociedade frente aos problemas que ficaram no passado.

b)

as justificativas para a segregação social no mundo contemporâneo.

c)

as tensões sociais presentes há tempos, sob a luz dos embates do momento atual.

d)

a importância de contornar os problemas sociais do passado.

e)

as peculiaridades das diferentes classes sociais ao enfrentar os problemas sociais atuais.

Resolução

a) Incorreta. Há vários indícios de que o texto aborda problemas sociais ainda presentes: as quatro estrofes iniciam-se com a expressão “É tempo”, apelando para ações que devem ser tomadas no presente; na última estrofe, as referências a “novos quilombos” e a “dias futuros” sugerem que o conflito em questão surgiu no passado, mas estende-se ao tempo atual e deve seguir adiante. Finalmente, a afirmação do último verso revela que a luta pela liberdade perpassa todas as épocas.

b) Incorreta. O eu lírico não justifica a segregação social; pelo contrário, convoca o leitor a se preparar e, por meio da união, lutar pela liberdade.

c) Correta. O poema apresenta elementos que remetem à luta contra a escravidão africana no Brasil (“aquilombar”, “quilombos”, “quilombola”), incorporando-os ao momento presente. Assim, denuncia a manutenção de conflitos sociais que devem ser combatidos.

d) Incorreta. Conforme exposto na alternativa “a”, os problemas sociais abordados no poema não se encerram no passado, mas seguem presentes no contexto atual. Diante disso, o eu lírico não pretende contornar, ou seja, esquivar-se de tais problemas, mas enfrentá-los, dando sequência à luta pela liberdade.

e) Incorreta. Não há referências, no poema, a diferentes classes sociais: percebe-se que o eu lírico se refere à população segregada, vítima das desigualdades sociais e da opressão que remonta à época da escravidão.