“Na coluna do ativo como na do passivo, seria difícil exagerar o papel do açúcar na história do Brasil colonial. Se ele foi o produto que proporcionou a base inicial solidamente econômica para o esforço do colonizador, foi também o que plasmou o regime de propriedade latifundiária, instalou a escravidão africana na América portuguesa e, no seu exclusivismo, inibiu o desenvolvimento da policultura (...), embora estimulando, em áreas apartadas, a pecuária e a lavoura de subsistência. (...) Ele desenvolveu um estilo de vida que marcou a existência de todas as camadas da população que integrou, reservando, contudo, seus privilégios a uns poucos.”
MELLO, Evaldo Cabral de. Um imenso Portugal: História e historiografia. São Paulo: Ed. 34, 2002. p.110.
O texto indica que, no Nordeste açucareiro dos séculos XVI e XVII,
a) |
a mão de obra de escravizados de origem africana e indígena era empregada nos canaviais, na pecuária e na lavoura de subsistência. |
b) |
a distribuição de terras baseava-se na concessão, pela Coroa portuguesa, de privilégios e pequenos lotes a donatários. |
c) |
os privilégios concentravam-se nas mãos dos senhores de engenho, em detrimento da população escravizada ou livre e pobre. |
d) |
o desenvolvimento de relações socioeconômicas fundadas na horizontalidade recebia estímulos governamentais. |
e) |
o modo de produção feudal prevaleceu na exploração agrícola pela metrópole. |
a) Incorreta. A escravidão não era a principal forma de mão de obra nas lavouras de subsistência e na pecuária. Enquanto a agricultura de subsistência era praticada de forma autônoma por boa parte dos habitantes pobres e trabalhadores no nordeste açucareiro, a pecuária se baseava principalmente no trabalho dos vaqueiros, geralmente trabalhadores pobres, livres e assalariados, remunerados com parte do gado criado na propriedade.
b) Incorreta. Embora a distribuição de terras nas Capitanias Hereditárias e pelo regime de sesmarias tenha sido baseada na lógica de concessão e privilégios, esses modelos garantiram acesso a grandes propriedades de terra, e não a "pequenos lotes".
b) Correta. A sociedade açucareira foi marcada por uma estrutura hierarquizada, caracterizada pela rígida concentração de riqueza, pelo patriarcado e pela limitada mobilidade social. Nesse contexto, os senhores de engenho compunham a chamada nobreza da terra, possuindo poder político e econômico proveniente de suas propriedades rurais, da exploração do trabalho escravo e dos privilégios baseados em raça, gênero e religião. Na esfera política, desempenhavam funções nas Câmaras Municipais, órgãos de poder local que exerciam significativa influência devido às dificuldades logísticas decorrentes das distâncias entre a colônia e a metrópole. No polo oposto da estrutura social estavam os numerosos escravizados, tanto africanos quanto indígenas, privados de direitos fundamentais e da oportunidade de possuir terras. Outros grupos marginalizados também faziam parte desse quadro social, orbitando em torno da influência e do poder dos senhores de engenho, incluindo mulheres e pobres livres. Embora em uma condição diferente dos escravizados, esses grupos também dependiam consideravelmente dos senhores de engenho e tinham atuação restrita no espaço público da sociedade colonial.
d) Incorreta. Conforme destacado no texto, a sociedade açucareira nos séculos XVI e XVII não era baseada na horizontalidade, ou seja, na equidade, mas sim na concentração de riqueza e poder. Além disso, é incorreto sugerir que as autoridades coloniais fomentassem uma maior horizontalidade social, tendo em vista que defendiam o regime de escravidão, a concentração de terras e a manutenção dos privilégios pela elite local.
e) Incorreta. A colonização é um fenômeno do mercantilismo, um conjunto de princípios econômicos característicos do Antigo Regime, e não do modo de produção feudal. Ao contrário do feudalismo, o trabalho não era caracterizado pela exploração do trabalho servil, mas sim pelo trabalho escravo africano, como destacado no texto. Outra diferença notável entre o modo de produção feudal e a experiência colonial é que, enquanto o primeiro almejava a autossuficiência econômica dos feudos, a exploração colonial portuguesa estava associada à mercantilização de produtos cultivados para fomentar uma concentração de riqueza na metrópole.