“Quero dizer, numa palavra, que, levando em conta todas as coisas que nascem, devemos verificar se em cada caso é bem assim que nasce cada um dos seres, isto é, se os contrários não nascem senão dos seus próprios contrários, em toda parte onde existe tal relação: entre o belo, por exemplo, e o feio, que é, penso, o seu contrário; entre o justo e o injusto; e assim milhares de outros casos. (...) Exemplo: quando uma coisa se torna maior, não é necessário que ela anteriormente tenha sido menor, para em seguida se tornar maior?”
Platão, Fédon, p.79.
No trecho transcrito do texto Fédon, Platão propõe uma compreensão filosófica própria sobre a relação existente entre os opostos. Com base nela, dentre as inferências possíveis, aquela que descreve a articulação principal entre dois termos que se opõem é:
a) |
Entre os opostos, é possível inferir uma relação principal de complementariedade. |
b) |
Entre os opostos, é possível inferir uma relação principal de alternância. |
c) |
Entre os opostos, é possível inferir uma relação principal de exclusão. |
d) |
Entre os opostos, é possível inferir uma relação principal de anulação. |
e) |
Entre os opostos, é possível inferir uma relação principal de geração. |
a) Incorreta. O excerto de Fédon não sustenta uma relação principal de complementariedade, isto é, de que os opostos são partes interdependentes de um todo. O cerne da reflexão exposta no excerto trata da origem mútua entre opostos, ou seja, como nascem a partir do próprio contrário.
b) Incorreta. A relação de alternância entre opostos, em que um se sucede ao outro, não é a reflexão principal mencionada por Platão. O filósofo trata de uma relação sobre o surgimento de conceitos intrinsicamente a partir de opostos.
c) Incorreta. A relação traçada entre os opostos no texto não é de exclusão, ou seja, de que um oposto elimina o outro. Afinal, Platão questiona se um oposto nasce apenas do seu próprio contrário, sem excluir uma possível simultaneidade entre eles.
d) Incorreta. A relação principal entre os opostos não é de anulação, mas sim de uma dinâmica de origem ou surgimento mútuo. Não há nenhum trecho do texto que sugira uma supressão ou cancelamento entre os opostos.
e) Correta. A partir da leitura do texto de Platão, a relação principal possível de inferir entre opostos é de geração. O autor aventa que um oposto nasce somente do seu próprio contrário, sugerindo a ideia de que os opostos nascem uns dos outros, como nos exemplos "maior" e "menor" ou "justo" e "injusto". Assim, ao mencionar "se os contrários não nascem senão dos seus próprios contrários", Platão está implicando uma relação de geração entre os opostos, em que um surge do outro.