“O preconceito linguístico é tanto mais poderoso porque, em grande medida, ele é ‘invisível’, no sentido de que quase ninguém fala dele, com exceção dos raros cientistas sociais que se dedicam a estudá-lo. Pouquíssimas pessoas reconhecem a existência do preconceito linguístico, quem dirá a sua gravidade como um sério problema social.”
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. Edições Loyola, São Paulo, 1999.
Com base na leitura do texto, é possível depreender que o preconceito linguístico, apesar de nocivo para a sociedade, muitas vezes é despercebido. Nesse sentido, assinale a alternativa que apresenta um exemplo de preconceito linguístico.
a) |
A língua falada é um instrumento de sobrevivência em sociedade. |
b) |
A língua varia tão rapidamente quanto as mudanças que ocorrem na sociedade. |
c) |
Existem muitas maneiras de se expressar a mesma ideia. |
d) |
Os habitantes de uma cidade grande não possuem sotaque na língua falada. |
e) |
Todo falante nativo de uma língua a conhece plenamente. |
a) Incorreta. Afirmar que a língua falada é um instrumento de sobrevivência não constitui um preconceito linguístico, pois, na verdade, marca essa modalidade como de extrema importância para a vida em sociedade, sem exprimir qualquer juízo de valor a seu respeito, mesmo que esta não seja a que é dotada do mais acentuado prestígio social, como a escrita.
b) Incorreta. A afirmação reconhece a variação linguística como constituinte da língua, sem tratar tal alteração com qualquer juízo de valor, não se apresentando, portanto, como preconceito linguístico.
c) Incorreta. A afirmação presente no item reconhece que a representação dos referentes pode ser feita de formas diversas, com expressões linguísticas, inclusive, distintas. Tal afirmação contrapõe-se à ideia de que há uma única via de expressão, a qual seria correta, e, portanto, não constitui um preconceito linguístico.
d) Correta. A afirmação do item é de que os habitantes de uma cidade grande – provavelmente falantes da variedade de prestígio urbana – não possuem sotaque na língua falada (o que é falso). Tal frase pressupõe que a ausência de sotaque marcaria neutralidade, implicando em juízo de valor por considerar que haja um ideal linguístico no qual não há marcas; logo, criar-se-ia uma categorização valorativa para as variedades que apresentassem ou não marcas de sotaque, geralmente as mais afastadas dos grandes centros, o que constitui preconceito linguístico.
e) Incorreta. Ao exprimir que todo falante da língua a conhece plenamente, existe uma pressuposição incorreta, dado que provavelmente tais falantes conhecem plenamente a variedade que dominam. Contudo, tal pressuposição não está expressando julgamento de valor, inferiorizando, categorizando qualquer falante com tal expressão; logo, não se pode afirmar que existe nessa frase preconceito linguístico.