A leishmaniose visceral é uma zoonose causada por um protozoário do gênero Leishmania que é encontrado em diversos tecidos. Ela é transmitida ao homem de forma indireta, por vetores do ambiente doméstico. O cão é considerado um importante hospedeiro desse protozoário, podendo ou não apresentar os sintomas da doença, como perda de peso, anemia, ferimentos na pele, diarreia, conjuntivite e insuficiência renal. Em uma região que sofre com alta incidência dessa doença, uma campanha do centro de zoonoses buscou verificar a presença desse protozoário nos cães para tentar controlar a doença.
Em qual material biológico dos cães a presença desse protozoário representa risco de transmissão dessa zoonose?
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Urina. |
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Saliva. |
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Fezes. |
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Sangue. |
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Secreção ocular. |
A leishmaniose é uma protozoose causada pelo protozoário flagelado do gênero Leishmania. Existem duas formas da doença: a leishmaniose tegumentar americana, causada pela espécie L. braziliensis; e a leishmaniose visceral, causada pelas espécies L. donovani, L. infantum e L. chagasi.
A forma tegumentar (cutânea), antigamente conhecida como úlcera de Bauru, é caracterizada pelo aparecimento de úlceras na pele, nos locais da picada do vetor. Outros sintomas, como úlceras nas mucosas das vias aéreas superiores (nariz, boca, faringe e laringe) também podem surgir, caracterizando a forma mucocutânea da doença. Já a forma visceral, também conhecida como calazar, é responsável pelo aparecimento de febre de longa duração, aumento do fígado e do baço (hepatoesplenomegalia), diarreia, perda de peso, fraqueza e anemia.
A transmissão da leishmaniose ocorre pela picada das fêmeas de dípteros conhecidos como mosquito-palha (Lutzomyia longipalpis), da subfamília Phlebotominae (Figura 1). A forma infectante do protozoário, chamada de promastigota (Figura 2), fica nas glândulas salivares do inseto, sendo transferidas para a circulação sanguínea do hospedeiro junto com a saliva.
Figura 1: mosquito-palha, vetor da leishmaniose, alimentando-se de sangue de um hospedeiro. Fonte: https://www.livescience.com/56883-parasitic-infection-leishmaniasis-united-states.html
Figura 2: formas promastigas de Leishmania vistas ao microscópio óptico. Fonte: https://www.cdc.gov/dpdx/leishmaniasis/index.html Acesso em 12 de novembro de 2023.
Existem diversas espécies de mamíferos que funcionam como reservatório da doença, ou seja, hospedeiros que podem contaminar o vetor, permitindo que o protozoário seja transmitido para os seres humanos. Entre os animais que podem atuar como reservatório estão raposas e marsupiais (como os gambás), em ambiente silvestre, bem como os cães (Canis familiaris), em ambiente doméstico. Enquanto a forma amastigota (desprovida de flagelo) é encontrada nas células, sendo responsável pela reprodução assexuada do protozoário, a forma promastigota (flagelada e infectante) é encontrada no sangue.
As medidas profiláticas para a leishmaniose incluem: combate ao inseto vetor; uso de repelentes, mosquiteiros (de malha fina) e telas em portas e janelas; evitar a exposição nos horários de maior atividade do agente transmissor; e vacinar ou tratar os cães e demais animais domésticos que possam servir como reservatório do protozoário.
Portanto, como a leishmaniose é transmitida por mosquitos hematófagos, a presença de L. donovani, L. infantum e L. chagasi no sangue de cães e outros mamíferos, que são reservatórios do patógeno, representa um risco de transmissão para as pessoas. Qualquer outro material biológico citado nas demais alternativas não oferece risco de transmissão dessa zoonose.