Toxicidade do cianeto
A produção de ATP depende do gradiente de prótons gerado pela cadeia respiratória. Nessas reações, os elétrons provenientes da oxidação do NADH em NAD+ percorrem a cadeia até chegarem à citocromo c oxidase reduzindo o a . O oxigênio atua como aceptor final desses elétrons formando água. O cianeto é uma espécie química altamente tóxica que tem grande afinidade pelo . Quando células são expostas ao cianeto, ele se liga ao sítio de + da citocromo c oxidase, impedindo a sua conversão em e bloqueando a cadeia respiratória.
ALBERTS, B. et ai. Biologia molecular da célula. Porto Alegre: Artmed, 2010 (adaptado).
Esse bloqueio aumenta a concentração celular de
a) |
ATP. |
b) |
água. |
c) |
NADH. |
d) |
dióxido de carbono. |
e) |
citocromo c oxidase. |
A respiração celular aeróbica é um processo catabólico responsável pela oxidação de moléculas orgânicas, como a glicose, com o objetivo de gerar ATP (adenosina trifosfato), a substância que possibilita às células desempenharem seus processos metabólicos vitais.
A respiração aeróbica é dividida em quatro etapas: glicólise, oxidação do piruvato, ciclo de Krebs e fosforilação oxidativa.
Durante a glicólise, que acontece no citosol da célula, a molécula de glicose é quebrada em duas moléculas de ácido pirúvico (piruvato), gerando duas moléculas de ATP e duas moléculas de uma coenzima conhecida como NADH (nicotinamida adenina dinucleotídeo). O NADH (forma reduzida) é formado quando o NAD+ (forma oxidada) recebe dois elétrons e um H+ a partir de uma reação de oxirredução. A função do NADH é transportar elétrons de alta energia até a última etapa da respiração celular.
Durante a oxidação do piruvato, processo que acontece na matriz mitocondrial, as duas moléculas de ácido pirúvico são transformadas em duas moléculas de acetil-CoA (acetil-coenzima A), gerando duas moléculas de gás carbônico (CO2) e mais duas moléculas de NADH.
Durante o ciclo de Krebs (ciclo do ácido cítrico), que também acontece na matriz mitocondrial, as duas moléculas de acetil-CoA são completamente oxidadas, gerando quatro moléculas de CO2, seis NADH, dois FADH2 (molécula que possui função semelhante ao do NADH, porém resulta em menor saldo energético sob a forma de ATP) e duas moléculas de ATP.
Por fim, durante a fosforilação oxidativa, que ocorre nas cristas mitocondriais, a energia dos elétrons da glicose é utilizada para sintetizar grandes quantidades de ATP. Essa etapa é dividida em duas partes: cadeia respiratória, ou cadeia transportadora de elétrons, e quimiosmose.
Na cadeia respiratória, os elétrons trazidos pelo NADH e pelo FADH2 são transportados por uma série de aceptores de elétrons (constituídos por citocromos), organizados em uma escala crescente de potencial de redução. Os citocromos são formados por uma parte proteica e por um grupo que contém ferro (Fe2+/Fe3+), sendo que esse metal de transição é capaz de ganhar e perder elétrons com muita facilidade. O NADH doa seus elétrons para o complexo I, enquanto o FADH2 doa seus elétrons para o complexo II, voltando aos seus estados oxidados (NAD+ e FAD). Os elétrons dos complexos I e II são então doados para a coenzima Q, que por sua vez transfere esses elétrons para o complexo III, que é oxidado pelo citocromo c, o qual, por fim, doa seus elétrons para o complexo IV (citocromo c oxidase). Este último complexo proteico é oxidado pela molécula de oxigênio (O2), que captura os elétrons do complexo IV, íons H+ e se transforma em água (H2O). Dentro do contexto da respiração celular e cadeia respiratória, o gás O2 é classificado como aceptor final de elétrons.
O processo de quimiosmose consiste na transformação da energia dos elétrons perdidos pela glicose em energia química armazenada sob a forma de ATP. Conforme os elétrons atravessam a cadeia respiratória, os complexos I, III e IV usam a energia perdida por eles para transportar, contra o gradiente de concentração, íons H+ da matriz mitocondrial para o espaço intermembranas (localizado entre a membrana interna e a membrana externa da mitocôndria). Assim, estabelece-se, entre o espaço intermembranas e a matriz mitocondrial, um gradiente de concentração de H+, o qual armazena energia potencial. Um complexo enzimático conhecido como ATP sintase é capaz de transportar os íons H+ do espaço intermembranas para a matriz mitocondrial, a favor do gradiente de concentração, transformando a energia potencial do gradiente em energia química armazenada nas moléculas de ATP.
Figura 1: cadeia respiratória e quimiosmose. Fonte: BIOLOGIA de Campbell. Coautoria de Lisa A. Urry et al. 12. ed. Porto Alegre, RS: ArtMed, 2022. ISBN 9786558820680. Acesso em 13 de novembro de 2023.
O cianeto (HCN), um gás tóxico, é capaz de se ligar ao sítio ativo do complexo IV, de forma que os elétrons do ferro não conseguem ser doados à molécula de oxigênio. Assim sendo, o ferro do complexo IV permanece em sua forma reduzida (Fe2+), bem como os demais citocromos que constituem a cadeia respiratória. Como os complexos I e II também permanecem com seus elétrons, as coenzimas NADH e FADH2 se tornam incapazes de doarem seus elétrons, permanecendo também em suas formas reduzidas. Desse modo, o gradiente de H+ se dissipa e novas moléculas de ATP não conseguem ser sintetizadas, levando a célula à morte. Uma vez que as coenzimas não são reduzidas pela cadeia respiratória, as concentrações das formas oxidadas, NAD+ e FAD, irão diminuir na célula, enquanto haverá um aumento das concentrações das formas reduzidas, NADH e FADH2.
a) Incorreto. Devido à interrupção do fluxo de elétrons pela cadeia respiratória, a concentração de ATP diminui, levando a célula à morte.
b) Incorreto. Como o oxigênio (O2) não consegue receber os elétrons do complexo IV, a formação de água ao final da cadeia respiratória não acontece.
c) Correto.
d) Incorreto. A formação de gás carbônico durante a oxidação do piruvato e durante o ciclo de Krebs também será inibida pelo cianeto, uma vez que a concentração de coenzimas NAD+ e FAD necessárias a esses processos, como reagentes, estará reduzida.
e) Incorreto. A concentração da citocromo c oxidase, ou complexo IV, é relativamente constante nas cristas mitocondriais, não sendo afetada pelo cianeto.