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Questão 13 Enem 2023 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 13

Pressupostos e Subentendidos

     Enquanto estivemos entretidos com os urubus outras coisas andaram acontecendo na cidade. A Companhia baixou novas proibições, umas inteiramente bobocas, só pelo prazer de proibir (ninguém podia cuspir pra cima, nem carregar água em jacá, nem tapar o sol com peneira, como se todo mundo estivesse abusando dessas esquisitices); mas outras bem irritantes, como a de pular muro pra cortar caminho, tática que quase todo mundo que não sofria de reumatismo vinha adotando ultimamente, principalmente os meninos. E não confiando na proibição só, nem na força dos castigos, que eram rigorosos, a Companhia ainda mandou fincar cacos de garrafa nos muros. Achei isso um exagero, e comentei o assunto com mamãe. Meu pai ouviu lá do quarto e veio explicar. Disse que em épocas normais bastava uma coisa ou outra; mas agora a Companhia não podia admitir nenhuma brecha em suas ordens; se alguém desobedecesse à proibição podia se cortar nos cacos; se alguém conseguisse pular um muro quebrando o corte de alguns cacos, ou jogando um couro por cima, era apanhado pela proibição, nhoc – e fez o gesto de quem torce o pescoço de um frango.

VEIGA, J. J. Sombras de reis barbudos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.


Sob a perspectiva do menino que narra, os fatos ficcionais oferecem um esboço do momento político vigente na década de 1970, aqui representado pelo



a)

culto ao medo, infiltrado em situações do cotidiano.

b)

sentimento de dúvida quanto à veracidade dessas informações.

c)

ambiente de sonho, delineado por imagens perturbadoras.

d)

incentivo ao desenvolvimento econômico com a iniciativa privada.

e)

espaço urbano marcado por uma política de isolamento das crianças.

Resolução

a) Correta. A Companhia, citada pelo narrador, utiliza diferentes recursos para que suas imposições sejam respeitadas. Os recursos, segundo tenta explicar o pai ao filho contrariado com as proibições, são para que não exista a possibilidade de livrar-se das consequências da desobediência. Nesse sentido, observa-se que até mesmo situações banais, cotidianas (ou “bobocas”, como classifica o narrador), como “cuspir pra cima”, representavam um risco e, consequentemente, medo.

b) Incorreta. O narrador expressa aborrecimento em relação às proibições determinadas pela Companhia e considera-as um exagero. Na tentativa de amenizar a irritação do filho, o pai justifica o motivo das coerções. Portanto, explicação não está relacionada a um “sentimento de dúvida quanto à veracidade das informações”.

c) Incorreta. As proibições e castigos relatados pelo narrador não se referem a um contexto fantasioso, associado ao “ambiente de sonho”, ainda que as considerações sobre os efeitos dos cacos de vidro possam ser perturbadoras. 

d) Incorreta. O texto não faz menção a qualquer tipo de desenvolvimento econômico.

e) Incorreta. Não há referências, no texto, a uma “política de isolamento das crianças”.