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Questão 16 Enem 2023 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 16

prosa (interpretação) Olavo Bilac

A escravidão

     Esses meninos que aí andam jogando peteca não viram nunca um escravo... Quando crescerem, saberão que já houve no Brasil uma raça triste, votada à escravidão e ao desespero; e verão nos museus a coleção hedionda dos troncos, dos vira-muros e dos bacalhaus; e terão notícias dos trágicos horrores de uma época maldita: filhos arrancados ao seio das mães, virgens violadas em pranto, homens assados lentamente em fornos de cal, mulheres nuas recebendo na sua mísera nudez desvalida o duplo ultraje das chicotadas e dos olhares do feitor bestial. [...]

     Mas a sua indignação nunca poderá ser tão grande como a daqueles que nasceram e cresceram em pleno horror, no meio desse horrível drama de sangue e lodo, sentindo dentro do ouvido e da alma, numa arrastada e contínua melopeia, o longo gamer da raça mártir – orquestração satânica de todos os soluços, de todas as impressões, de todos os lamentos que a tortura e a injustiça podem arrancar a gargantas humanas.

BILAC, O. Disponível em: www.escritas.org. Acesso em: 29 out. 2021.


Publicado em 1902, o texto de Olavo Bilac enfatiza as mazelas da escravidão no Brasil ao



a)

descrever de modo impessoal as consequências da exploração racial sobre as gerações futuras.

b)

contrapor a infância privilegiada das crianças na época à infância violentada das crianças escravizadas.

c)

antecipar o futuro apagamento das marcas da escravidão no contexto social.

d)

criticar a atenuação da violência contra os povos escravizados nas memórias retratadas pelos museus.

e)

imaginar a reação de indiferença de seus contemporâneos com os escravizados libertos.

Resolução

a) Incorreta. Não é possível afirmar que a descrição é impessoal, uma vez que há trechos com marcas de análise pessoal como em “pleno horror”, “horrível drama” e “época maldita”.

b) Correta. O texto faz uma contraposição entre a infância de meninos escravizados e não escravizados, apontando que aqueles de uma geração posterior à libertação dos escravizados não saberão, por falta de vivência, como fora verdadeiramente aquele período no Brasil. No primeiro parágrafo, temos a infância privilegiada daqueles que jogam peteca e nunca viram um escravo, mas apenas saberão da escravidão quando crescerem e tomarem conhecimento das notícias do passado ou visitarem museus. O segundo parágrafo, que se inicia pela conjunção de oposição mas, contrapõe essa infância àquela daqueles que foram violentados pela escravidão e cuja indignação será enorme se comparada àquela daqueles privilegiados que não sentiram na pele o pleno horror do período escravagista no Brasil.

c) Incorreta. Bilac não antecipa o apagamento das marcas da escravidão no contexto social, pois tais marcas jamais foram apagadas, como demonstra o persistente racismo estrutural no Brasil.

d) Incorreta. Na visão de Bilac, apenas o testemunho seria capaz de compreender verdadeiramente os horrores da escravidão, ainda que os museus apresentem objetos e representações do período, sem o objetivo de atenuação da violência contra os povos escravizados.  

e) Incorreta. O texto não chega a mencionar a reação dos indivíduos não escravizados à libertação dos escravizados.