E assim as coisas continuaram acontecendo entre os dois, em quase sustos, um grande por acaso com cacoetes de gestos definitivos. Com o Nunca Mais se oferecendo o tempo todo, bastaria dizer foi um prazer ter te conhecido, bastaria não trocar telefones nem e-mails e enterrar a casualidade com a cal da sabedoria – nada poderia ser definitivo, os encontros duravam duas horas ou duas décadas ou duas vezes isso, mas em algum momento necessariamente seria o fim. De todos os grandes amores. De todos os pequenos. De todos as juras, das promessas, de todos os na-alegria-e-na-tristeza. De todos os não amores, os desamores, os casamentos para sempre, os rancores para sempre, de todas as paralelas que só se viabilizam na abstração da geometria, de todas as pequenas paixões e de todas as grandes paixões, de tudo que para na antessala da paixão, de todos os vínculos não experimentados, de todos.
LISBOA, A. Rakushisha. Rio de Janeiro. Objetiva, 2014.
O recurso que promove a progressão textual, contribuindo para a construção da ideia de que as relações amorosas têm um enredo comum, é a
a) |
reperição do pronome indefinido "todos". |
b) |
utilização do travessão na marcação do aposto. |
c) |
retomada do antecedente pelo pronome "isso". |
d) |
contraposição de ideias marcada pela conjunção "mas". |
e) |
substantivação de expressões pela anteposição do artigo. |
a) Correta. Há uma repetição do pronome indefinido “todos” (bem como de “todas”, o que pode gerar dúvida e tornar a questão e a alternativa imprecisas) que contribuem para a interpretação de que as relações amorosas têm um mesmo enredo. É como se a repetição dos pronomes evidenciasse que as situações descritas acontecem em todas as relações dessa natureza. O texto se encerra com a expressão “de todos”, reforçando tal interpretação.
b) Incorreta. O uso do travessão acontece em um momento específico do texto e não é, portanto, responsável por promover a progressão textual do texto, tampouco por construir a visão de que as relações amorosas têm enredo em comum.
c) Incorreta. O pronome “isso” aparece uma vez no texto, retomando o substantivo “décadas” e, por se referir a uma situação específica entre as descritas no texto, não pode ser considerado como um recurso usado para promover a progressão textual que contribui para a construção da ideia de que as relações amorosas tenham um enredo comum.
d) Incorreta. De fato, o emprego da conjunção “mas” inicia uma contraposição no texto, que vai passar a descrever momentos ligados ao fim de um relacionamento. Essa contraposição, no entanto, não pode ser apontada como um recurso que promove a progressão textual, pois ele é usado em um momento pontual e poderia, inclusive, ser dispensado sem que se alterasse o sentido do texto.
e) Incorreta. Ocorre, de fato, a substantivação de algumas expressões ao longo do texto (como em “de todos os na-alegria-e-na-tristeza” e em “os casamentos para sempre”), no entanto, não é possível afirmar que esse seja o recurso responsável pela progressão textual, uma vez que essas ocorrências são pontuais e não carregam o sentido de explicitar que as situações descritas sejam comuns às relações amorosas, de um modo geral.