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Questão 78 Enem 2023 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 78

Períodos da História da Filosofia

Quem se mete pelo caminho do pedido de perdão deve estar pronto a escutar uma palavra de recusa. Entrar na atmosfera do perdão é aceitar medir-se com a possibilidade sempre aberta do imperdoável. Perdão pedido não é perdão a que se tem direito [devido]. É com o preço destas reservas que a grandeza do perdão se manifesta.

RICOEUR, P. O perdão pode curar. Disponlvel em: www.lusosofia.net. Acesso em: 14 out. 2019.


A reflexão sobre o perdão apresentada no texto encontra fundamento na(s)

 



a)

rejeição particular amparada pelo desejo de poder

b)

decisão subjetiva determinada pela vontade divina.

c)

liberdade mitigada pela predestinação do espírito.

d)

escolhas humanas definidas pelo conhecimento empírico.

e)

relações interpessoais mediadas pela autonomia dos indivíduos.

Resolução

O exercício traz um pensador pouco conhecido da história da filosofia: Paul Ricoeur, francês dos séculos XX e XXI. Uma escolha interessante, por colocar à disposição dos discentes uma leitura, poderíamos dizer, “rara”, sobretudo para alunos e alunas de Ensino Médio, aspirantes ao Ensino Superior.

Além do autor ser pouco conhecido, seus temas filosóficos também não figuram entre os mais comentados. Ricoeur foi um estudioso de hermenêutica, se destacando, sobretudo, no campo da hermenêutica onírica. Nesse sentido, a questão poderia ter sido montada com intuito de colocar em diálogo, em um mesmo exercício, Ricoeur e Freud (outro hermeneuta dos sonhos), ou Ricoeur e Descartes (um dos poucos, na história da filosofia, a pensar sobre o sonho). Em um outro sentido, ainda, o examinador poderia ter trazidos os debates de Paul Ricoeur sobre simbologia e, com eles, poderia ter feitos comparações entre Ernest Cassirer ou Gadamer, por exemplo. Ainda mais: as análises que o autor faz sobre Freud, Nietzsche e Marx. Em qualquer desses casos (sugestões), teríamos questões excelentes, com autores de profundidade, temas interessantes e um amplo nicho de articulações conceituais.

Ao contrário, porém, e aqui fica um ponto de crítica, o exercício trouxe um tema caro à filosofia medieval: o perdão. Não que o tema do perdão foi visto sob a óptica religiosa, mas, como é sabido, a filosofia medieval é muito mais teologia do que qualquer outra coisa. Ademais, o tema, nos dias de hoje, está muito mais no campo da psicologia do que da filosofia. Assim, parece-nos que o Paul Ricoeur que a prova trouxe foi o Paul Ricoeur teólogo; o pastor; talvez não o filósofo. Perdeu-se, então, a chance de se apresentar um exercício muito mais interessante, que não se resumisse a uma simples (fácil) leitura de texto.

a) Incorreta. Não encontra fundamentação no texto, que não discute relações de poder.

b) Incorreta. A vontade divina não aparece no texto, que entende o perdão sob uma perspectiva antropológica.

c) Incorreta. A liberdade daqueles que se exercem o perdido do perdão, ou sua concessão, não é mitigada (reduzida) por interferência espiritual – pelo menos não nesse trecho apresentado no exercício.

d) Incorreta. Não se discute, aqui, a natureza do conhecimento – empírico ou não empírico. O item, então, extrapola o esquadro do exercício, estabelecendo-se como incorreto.

e) Correta. De fato, as relações interpessoais (entre as pessoas) são mediadas pela autonomia do sujeito, o que significa que construímos nossas relações sob o sustentáculo da liberdade.