Questão 2 Unicamp 2024 - 2ª fase - dia 2
No ecossistema amazônico, peixes grandes, que se movimentam por distâncias maiores e consomem frutos maiores, são os preferencialmente pescados. Pesquisadores compararam o tamanho dos peixes (indicados na figura abaixo) em áreas próximas a Manaus (1) e em áreas mais distantes (2). Usando modelagem, simularam a relação entre o tamanho do peixe e o do fruto do qual ele se alimenta. Na figura, os círculos pretos () indicam os tamanhos máximos dos frutos consumidos pelos tambaquis pescados recentemente; os círculos brancos (), o tamanho máximo dos frutos consumidos pelo maior tambaqui já pescado em cada área do estudo. A área cinza indica a distribuição dos tamanhos dos frutos das 264 espécies vegetais encontradas na área do estudo.
(Adaptado de: COSTA-PEREIRA, R. et al. PNAS, Washington, v. 115, p. E2673-E2675, mar. 2018.)
a) Com base nos dados apresentados, como a flora amazônica é influenciada pela pesca excessiva?
b) As espécies vegetais citadas no texto pertencem a qual grupo de fanerógamas? Justifique a sua resposta. O consumo dos frutos por dispersores vertebrados, como os peixes, é uma pressão de seleção para características que aumentam a sua detecção pelos animais. Considerando a morfologia dos frutos, qual é a parte responsável por atrair os peixes?
a) De acordo com os dados apresentados no texto e na figura, pode-se concluir que a sobrepesca (pesca que ultrapassa a capacidade de reposição dos indivíduos pelas populações naturais), ou pesca excessiva, tem o potencial de reduzir a dispersão de sementes e afetar negativamente a biodiversidade da flora amazônica. A redução da dispersão está relacionada à diminuição dos tamanhos das populações de espécies nativas de peixes, bem como à diminuição do tamanho médio dos indivíduos, principalmente em áreas próximas a Manaus, o maior centro urbano da região amazônica, com cerca de 2 milhões de habitantes.
Os grandes peixes dulcícolas da bacia amazônica, como o tambaqui (Colossoma macropomum) (Figura 1), possuem um relevante papel ecológico nesse ecossistema, pois são importantes dispersores de sementes (ictiocoria). Quando os peixes se alimentam dos frutos das árvores, as sementes atravessam seu sistema digestório intactas, sendo eliminadas juntamente com as fezes em locais propícios à germinação.
Figura 1. Colossoma macropomum, popularmente chamado de tambaqui. Fonte: https://en.m.wikipedia.org/
O papel ecológico dos peixes como dispersores de sementes em locais onde a pesca é excessiva tem sido afetado de forma negativa. Como mostrado no gráfico, o tamanho dos peixes em áreas próximas a Manaus é menor do que o tamanho dos peixes em áreas distantes de Manaus. Como consequência, o tamanho máximo dos frutos consumidos em áreas próximas a Manaus é menor do que o tamanho máximo dos frutos consumidos em áreas distantes de Manaus.
A redução da biodiversidade da flora amazônica relacionadas à dispersão de sementes por peixes da bacia amazônica pode ser explicada em dois pontos principais:
- Muitas espécies de plantas cujos frutos são muito grandes para serem transportados por vertebrados terrestres dependem da ictiofauna para dispersar suas sementes e, assim, manter o tamanho de suas populações. O espalhamento das sementes é importante porque aumenta a taxa de germinação desses propágulos e aumenta a taxa de sobrevivência das plântulas, uma vez que limita a competição com a planta-mãe e com outros indivíduos da mesma espécie (competição intraespecífica).
- Os grandes peixes dulcícolas da bacia amazônica aumentam a área geográfica de dispersão das sementes das plantas, o que promove o aumento da variabilidade genética das populações vegetais. De forma geral, quanto maior é o tamanho do indivíduo, maior é a distância que ele percorre e, portanto, maior é o potencial de propagação das sementes para diferentes e distantes regiões.
b) As espécies vegetais citadas no texto pertencem a um grupo de fanerógamas conhecido como angiospermas (Angiospermae, Anthophyta ou Magnoliophyta), ou plantas com flores. Pode-se concluir que se trata das angiospermas pois, no texto, faz-se referência aos frutos dispersos por peixes da bacia amazônica. De todos os grupos vegetais, somente as angiospermas produzem frutos, estruturas que se desenvolvem a partir do ovário da flor, após a fecundação, sob efeito dos hormônios auxina e giberelina. O fruto é formado por duas partes: pelo pericarpo (que pode ser carnoso ou seco, dependendo da espécie) e pela semente (desenvolvida a partir do óvulo da flor), que se localiza em seu interior, sendo protegida e dispersada devido às características próprias do pericarpo. O pericarpo, por sua vez, pode ser dividido em epicarpo (região mais externa, de proteção), mesocarpo (região intermediária e que pode conter substâncias nutritivas) e endocarpo (região interna, que também pode conter nutrientes) (Figura 2).
Figura 2. Estrutura do fruto das angiospermas. Fonte: banco de imagem.
Portanto, considerando a morfologia dos frutos, a parte responsável por atrair os peixes é o pericarpo, que representa o ovário desenvolvido. As características do pericarpo que podem ser atrativas para os peixes incluem pistas químicas, como odores, e pistas visuais, como o tamanho, a forma e a cor do fruto. Assim, o epicarpo chamativo ou as reservas nutritivas do mesocarpo e do endocarpo, podem ser atrativas para os animais dispersores.