Leia a canção “Sala de Recepção”, de Cartola, para responder às questões formuladas na sequência.
Sala de Recepção
Habitada por gente simples e tão pobre
Que só tem o sol que a todos cobre
Como podes, Mangueira, cantar?
Pois então saiba que não desejamos mais nada
À noite, a lua prateada
Silenciosa, ouve as nossas canções
Tem lá no alto um cruzeiro
Onde fazemos nossas orações
E temos orgulho de ser os primeiros campeões
Eu digo e afirmo que a felicidade aqui mora
E as outras escolas até choram
Invejando a tua posição
Minha mangueira, és a sala de recepção
Aqui se abraça inimigo
Como se fosse irmão
E temos orgulho de ser os primeiros campeões
(Cartola, “Sala de recepção”. In: Cartola. Rio de Janeiro: Marcus Pereira Discos, 1976)
a) A letra da canção inicia-se com uma pergunta. Identifique e explique quem responde a essa pergunta na segunda estrofe. Na sequência, indique os elementos que justificam a resposta daquele sujeito.
b) A partir da leitura de todo o poema, identifique e explique dois traços da sociabilidade do povo mangueirense que exprimem estereótipos do povo brasileiro.
a) Na primeira estrofe da canção, o eu lírico elabora uma pergunta que é dirigida à comunidade da Mangueira, conforme se verifica no verso “Como podes, Mangueira, cantar?”. Assim, na segunda estrofe, observa-se a resposta dessa interlocutora, na forma de um sujeito coletivo que, na canção, representa a voz das pessoas que formam essa comunidade, já caracterizada na própria pergunta como “gente simples e tão pobre”. As marcas linguísticas que apontam o caráter coletivo desse enunciador são os pronomes e verbos que indicam a primeira pessoa do plural: “não desejamos”, “nossas canções”, “fazemos nossas orações” e “temos orgulho”. Além disso, ao referir-se a “canções” e à ideia de “ser os primeiros campeões”, a resposta traz elementos que rementem ao universo das escolas de samba.
b) Na letra de “Sala de Recepção”, a Mangueira é representada como um lugar utópico, onde a “felicidade mora”. Lá, as pessoas são felizes cantando e fazendo suas orações, sabendo que são os campeões em relação às outras escolas de samba; desse modo, elas não desejam mais nada. Nesse lugar, onde reina a paz e a concórdia, não há conflitos e desavenças, de modo que até mesmo os inimigos se abraçam como se fossem irmãos. Tais traços da sociabilidade do povo mangueirense exprimem estereótipos do povo brasileiro, frequentemente caracterizado como alegre e pacífico, apesar das dificuldades financeiras.