Em sua página nas redes sociais, @sebastiao.salgados criou o “Festival Miojo Literário” (Instagram) em comemoração ao Dia do Escritor (#sebastiaoseriesescritores). O desafio era que seus seguidores assumissem a máscara discursiva de um(a) escritor(a) literário(a) para narrar o ato de comer um miojo. A primeira provocação se deu com a seguinte postagem: − Você é escritora? − Sou sim. − Então fala: “Comi um miojo”. Vários seguidores toparam o desafio, como, por exemplo, o internauta @aldanuzio, que assumiu ser o poeta Gonçalves Dias, e escreveu:
Texto 1
Minha terra tem miojo
E não é de Sabiá
É galinha caipira
Tempero que aqui não há.
Em cismar sozinho à noite
Não sabes prazer que me dá
O fervor em três minutos
Macarrão melhor não há.
Texto 2
Canção do exílio (Gonçalves Dias)
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá,
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
...
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá...
a) Considerando as formas de intertextualidade entre o tema “comer um miojo” e o poema de Gonçalves Dias, pode-se dizer que a produção do internauta é uma paráfrase ou uma paródia? Justifique sua resposta, com base nos textos 1 e 2.
b) Para este Vestibular Unicamp 2024, você leu a obra literária Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll. Aceite o desafio de @sebastiao.salgados, entre no país das maravilhas e elabore um diálogo em discurso direto, entre o Coelho Branco e o Chapeleiro Maluco. O diálogo deve mostrar ao menos uma característica de cada um dos personagens, o Coelho e o Chapeleiro, com mínimo de 3 e máximo de 5 linhas.
a) A produção do internauta é uma forma de intertextualidade denominada “paródia”. Diferentemente da paráfrase, que faz referência a uma obra sem que suas ideias originais sejam alteradas, a paródia recupera elementos de um texto para produzir uma releitura, geralmente de caráter cômico e/ou crítico. Assim, o texto 1, de @aldanuzio, dialoga com o poema de Gonçalves Dias, tanto no que diz respeito a alguns procedimentos estéticos, como ritmo e rimas, quanto na retomada de termos e expressões presentes na “Canção do Exílio” (“Minha terra tem”, “Sabiá”, “aqui” e “prazer”), além do verso “Em cismar sozinho à noite”. No entanto, o internauta adapta esses elementos ao tema proposto pelo desafio, “comer miojo”, explorando características desse alimento, como o sabor de “galinha caipira”, o tempero que o acompanha e o fato ser ser uma espécie de macarrão que fica pronto após ferver por três minutos. Dessa forma, o texto 1 é uma paródia que, ao apresentar uma releitura de um importante poema brasileiro com uma temática contemporânea e banal, produz um efeito humorístico.
b) Para elaborar a resposta a esta questão, o candidato deveria construir um diálogo entre os dois personagens, levando em conta o tema de "comer um miojo", além de destacar ao menos uma característica de cada um deles. No caso do Chapeleiro Maluco, o fato de estar "preso" ao horário do chá, por conta de ter brigado com o Tempo, é um bom caminho para introduzir o macarrão na cena. Tendo em vista que o miojo tem um preparo rápido, pode-se também explorar a característica mais marcante do Coelho Branco: a pressa. Ainda em relação a esse personagem, o candidato poderia citar sua criada, Mary Ann, e as luvas que levam o Coelho a atrasar-se em seu encontro com a Duquesa.
Possibilidade de resposta:
– Hoje, ao invés de tomarmos chá, comeremos miojo! – exclamou o Chapeleiro Maluco.
– Não posso, estou atrasado! – alegou o Coelho Branco.
– Mas fica pronto em três minutos... E eu conheço muito bem o Tempo, mesmo que ele tenha brigado comigo...
– Então quero, mas comerei no caminho. Mary Ann! Encha minhas luvas com esse macarrão.