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Questão 6 Unicamp 2024 - 2ª fase - dia 1

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Questão 6

social intertexto

Texto 1

“A língua portuguesa veio com o império, com as conquistas, com as descobertas. Por consequência, é uma linguagem de supremacia colonial. Tem marcas de racismo, de supremacia, de machismo”. “O racismo marcou não só a minha escrita, não só o meu trabalho. Marcou toda uma geração, que é a minha. No meu caso, eu uso a escrita para gritar um basta, para fazer uma denúncia, mas, acima de tudo, para criar um debate para uma melhor compreensão entre as diferentes vivências”.

(Trechos de entrevista da escritora Paulina Chiziane a Giuliana Miranda. Folha S. Paulo, Ilustrada, 03/06/2022. Acesso em: 10/09/2023.)

Texto 2

“Sororidade” é um termo bastante usado para remeter à ideia do acolhimento de mulheres que estão juntas tentando vencer o patriarcado. O termo vem do latim “sorór”, que significa “irmãs”, surge no contexto da Revolução Francesa (1789-1799), e lembra o lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Em 2017, Vilma Piedade publica o livro “Dororidade”, no qual afirma que a sororidade “parece não dar conta da nossa pretitude”. E que, a partir dessa percepção, pensou num novo conceito – especificamente, “a dor que só pode ser sentida a depender da cor da pele. Quanto mais preta, mais racismo, mais dor”. Falando à jornalista Glória Maria, Danila de Jesus, pesquisadora da UFBA, destacou a importância de difundir o uso do termo a partir da ampliação da consciência sobre raças em ambientes formativos, como o da educação. “É possível fazer isso, por exemplo, no cumprimento da Lei 10.639, que obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas”.

(Adaptado de Glória Maria. O que é “dororidade”? Conceito feminista trata das dores que unem as mulheres negras para além do machismo. Revista AzMina | ODS 10, ODS 5. Publicada em: 13/06/2022.)


a) Vilma Piedade propõe outro nome para substituir o termo “sororidade” (texto 2). Por que ela faz essa proposta? Explique essa mudança com base na primeira declaração de Paulina Chiziane sobre a língua portuguesa (texto 1).

b) De acordo com o segundo trecho da entrevista de Paulina Chiziane, no texto 1, sua escrita e todo seu trabalho estão marcados pelo racismo. Por que essa declaração se relaciona com o que a Lei 10.639, citada no texto 2, especifica?



Resolução

a) Vilma Piedade propõe o termo “dororidade”, pois, segundo ela, a palavra “sororidade” - que indica o acolhimento e parceria entre as mulheres -  não basta para expressar a realidade da mulher preta. Segundo ela, a dor sentida pelas mulheres está muito relacionada à cor da pele e que, quanto mais escura essa cor, maior será a dor. Essa mudança de palavra ocorre, desse modo, em virtude do racismo existente na sociedade, sobretudo em relação à mulher preta. Nesse caso, então, Vilma Piedade explora a língua portuguesa – que, segundo Paulina Chiziane em sua primeira declaração no texto 1, é uma língua que possui marcas de machismo, supremacia e racismo – para denunciar esses preconceitos sofridos pela mulher preta.

b) A Lei 10.639, implementada em 2003, obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas. A escritora Paulina Chiziane, em sua segunda declaração no texto I, afirma que suas produções são marcadas pelo racismo e que deseja, com isso, propor reflexões e debates sobre a problemática vivenciada por ela e por tantas outras pessoas. Desse modo, essa declaração de Chiziane se relaciona com a lei 10.639 justamente pelo fato de que, por meio dessa lei, as reflexões e debates sobre o racismo, propostas por Chiziane, passam a ser práticas valorizadas nas escolas.