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Questão 8 Unicamp 2024 - 2ª fase - dia 1

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Questão 8

Text Comprehension Sociedade e trabalho

Leia o texto a seguir e responda, em português, às questões.

The disciplinary regime works with commands and restraints, while the neoliberal exploits freedom instead of suppressing it. So, we don’t live in a disciplinary society but in a meritocracy. The subjects of neoliberal meritocracy, believing themselves to be free, are in reality servants, exploiting themselves without a master. Self-exploitation is more efficient than exploitation by others, because it goes hand in hand with a feeling of freedom. […] It is especially this internal pressure, this pressure to perform and optimise, that makes us tired and depressed. So, it is not oppression but depression that is the pathological sign of our times. Therefore, only an oppressive regime provokes resistance, which is why the neoliberal regime does not encounter resistance: authority is complete when it masquerades as freedom.

(Adaptado de: Byung Chul-Han. I practice philosophy as art. ArtReview. 02/12/2021.)


a) A quais regimes o autor relaciona a opressão e a depressão? Cite, com base em seus conhecimentos, uma característica de cada um desses regimes.

b) Com base no texto e em seus conhecimentos, explique como se dá, para cada regime citado no texto, a relação entre os conceitos de liberdade e de exploração.



Resolução

Tradução:

O regime disciplinar trabalha com comandos e restrições, enquanto o neoliberalismo explora a liberdade em vez de suprimi-la. Portanto, não vivemos em uma sociedade disciplinar, mas em uma meritocracia. Os sujeitos da meritocracia neoliberal, acreditando-se livres, são na realidade servos, explorando a si mesmos sem um mestre. A autoexploração é mais eficiente do que a exploração por outros, porque está associada lado a lado a um sentimento de liberdade. [...] É especialmente essa pressão interna, essa pressão para performar e otimizar, que nos faz sentir cansados e deprimidos. Assim, não é a opressão, mas a depressão que é o sinal patológico de nossos tempos. Portanto, apenas um regime opressivo provoca resistência, razão pela qual o regime neoliberal não encontra resistência: a autoridade é completa quando se disfarça como liberdade.

Resolução:

a) No texto, o autor relaciona a opressão ao regime disciplinar e a depressão ao regime neoliberal meritocrático. O conceito de regime disciplinar trazido no texto pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, deriva da ideia de sociedade disciplinar de Foucault que consiste em sociedades de vigilância em que os meios de confinamento (presídios, fábricas, escolas) impõe uma disciplina e um controle social dentro de moldes de conduta e comportamento específicos que visam produzir "corpos dóceis". Nessas sociedades o poder é capilarizado, o que garante uma aplicação constante dessas normas sociais por meio da vigilância e da punição. Já a sociedade neoliberal meritrocrática é uma sociedade fundada em ideais econômicos como a redução da participação estatal na economia, a privatização de seviços públicos, a redução de impostos, abertura comercial, entre outras características econômicas. A política econômica neoliberal, no entanto, se reflete também em questões sociais especialmente no que diz respeito à exploração do trabalho. Essa exploração é intensificada pela desregulamentação e flexibilização de leis econômicas e trabalhistas, o que, unido a um discurso meritocrático e a um sentimento ilusório de liberdade, como o texto coloca, leva a um cenário de autoexploração do indivíduo.

b) No regime disciplinar, a relação entre liberdade e exploração é caracterizada através da supressão da liberdade para manter a ordem, o controle, a disciplina social. Portanto, aqueles que não cumprissem os comandos e as leis seriam punidos, sem poder de escolha. A liberdade é limitada em prol da disciplina, e a exploração pode ocorrer por meio das restrições e punições impostas pelo poder. Já no regime neoliberal, a relação entre liberdade e exploração se dá de outra forma. O texto sugere que, sob o neoliberalismo, os indivíduos acreditam serem livres e são incentivados a conquistar cada vez mais bens e status através de seu merecimento (meritocracia), mas na realidade são explorados como servos, mesmo sem um mestre direto. A exploração, assim, não depende de um intermediário, é introjetada pelo próprio indivíduo (autoexploração) que busca constantemente otimizar e melhorar, muitas vezes em detrimento de seu bem-estar, em um ambiente que promove uma falsa liberdade e pouca ou nenhuma seguridade social.