Texto 1
“Que século, meus Deus! – exclamaram os ratos
E começaram a roer o edifício”.
(“Edifício Esplendor” (1955), de Carlos Drummond de Andrade, epígrafe do conto “Seminário dos Ratos”, de Lygia Fagundes Telles.)
Texto 2
Epígrafe é um paratexto (um texto que acompanha o texto principal), que pode justificar ou comentar um título ou texto; referenciar a relação entre o autor do texto e o da epígrafe; criar um efeito por meio do qual a presença da epígrafe já evoca a identificação do autor do texto com uma época ou movimento.
(Adaptado de: GENETTE, G. Paratextos Editoriais. Tradução de Álvaro Faleiros. Cotia: Ateliê Editorial, 2009.)
Considerando os textos 1 e 2, assinale a alternativa correta.
a) |
A epígrafe associa o conto de Lygia ao “sentimento do mundo” drummondiano. |
b) |
A epígrafe mostra que os versos de Drummond são imprescindíveis à escrita do conto. |
c) |
A epígrafe justifica o título do conto e comenta os possíveis sentidos críticos dele. |
d) |
A epígrafe identifica Lygia à geração de 30 do Modernismo, ao lado de Drummond. |
a) Incorreta. Tanto o conto de Lygia quanto os versos de Drummond escolhidos para a epígrafe não encontram paralelo no que pode ser chamado de “sentimento do mundo” drummondiano. Essa expressão relaciona-se ao embate do “eu” com o mundo, numa visão subjetiva em que o poeta se sente desajustado e impotente diante da realidade que o cerca. Em contrapartida, a epígrafe apresenta uma ação de intervenção, com os ratos roendo o edifício, assim como acontecerá no final do conto.
b) Incorreta. Embora a epígrafe tenha uma função importante, pois já apresenta ao leitor questões que serão abordadas ao longo do conto (como a humanização dos ratos, que invadem e destroem o seminário), a presença dos versos drummondianos não pode ser considerada imprescindível.
c) Correta. Os versos que compõem a epígrafe relacionam-se diretamente ao título do conto, apresentando seu elemento central: os ratos. Além disso, a imagem dos ratos roendo o edifício aponta para uma possível interpretação do título como um seminário que será feito pelos ratos, e não um evento dos seres humanos para tentar exterminar os roedores. Por fim, a exclamação “Que século, meu Deus!”, seguida da destruição do edifício, antecipa a crítica desenvolvida ao longo do texto de Lygia, que, por meio de alegorias e ironias, reconstrói o ambiente repressivo, de abuso do poder e de desigualdades sociais no contexto da ditadura militar no Brasil. Dessa forma, a epígrafe em questão, conforme apontado no Texto 2, tem a função de “justificar ou comentar um título ou texto”.
d) Incorreta. A epígrafe apresenta um recorte de um poema de Drummond, poeta associado à geração de 30 do Modernisno; a escolha de tais versos, no entanto, não significa que Lygia possa ser associada e esse movimento literário. Trata-se de explorar as relações entre o trecho em questão e a temática do conto, o que não implica uma identificação da autora à segunda geração modernista. Vale ressaltar que, diferentemente das obras produzidas pela geração de 30, a prosa de Lygia vale-se de elementos fantásticos, enquanto que os autores daquele período tendiam a um estilo mais realista.