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Questão 12 Unicamp 2024 - 1ª fase

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Questão 12

O ateneu

Leia as duas citações a seguir, extraídas do início e do final de O Ateneu:

“Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam. Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam, a saudade dos dias que correram como melhores.

Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as datas. Feita a compensação dos desejos que variam, das aspirações que se transformam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma base fantástica de esperanças, a atualidade é uma (...)”.

“Aqui suspendo a crônica das saudades. Saudades verdadeiramente? Puras recordações, saudades talvez, se ponderarmos que o tempo é a ocasião passageira dos fatos, mas sobretudo — o funeral para sempre das horas.”

(POMPEIA, Raul. O Atheneu (Chronica de saudades). Rio de Janeiro: Tipografia de Gazeta de Notícias, p 3-4 e 368, 188.)


Com base nessas duas citações, é possível afirmar que, ao fim da narrativa de Sérgio sobre sua vida no colégio, o narrador



a)

idealiza a felicidade experimentada na infância, suas aspirações, seu ardor e suas esperanças. 

b)

considera que a felicidade passada não era maior que a do presente, pois os tempos são iguais.

c)

duvida da própria saudade, separando as lembranças relativas ao passado daquele sentimento associado a elas.

d)

denuncia a hipocrisia da saudade que sente, por saber que a passagem do tempo é incerta.

Resolução

a) Incorreta. Sérgio não idealiza a felicidade experimentada na infância, pelo contrário, qualifica como hipócrita a saudade que afirmamos sentir dos “felizes tempos”. De acordo com a argumentação presente no primeiro fragmento, todas as fases da vida são semelhantes e, em todas elas, vivemos incertezas e decepções, inclusive na própria infância. Nesse sentido, o termo “felizes tempos” não passaria de um eufemismo empregado para atenuar as desilusões experimentadas no passado.

b) Incorreta. De certa forma, Sérgio considera que os tempos são iguais, pois afirma que “a atualidade é a mesma em todas as datas”, ou seja, em todas as fases da vida, as esperanças e desilusões estão presentes. Entretanto, é equivocado afirmar que “a felicidade passada não era maior que a do presente”, pois a felicidade não passaria de uma ilusão, fundamentada “sobre a mesma base fantástica de esperanças”.

c) Correta. Ao afirmar que o narrador duvida da própria saudade, a alternativa alude às expressões de dúvida presentes nos fragmentos, tais como “mesma incerteza de hoje” e “Saudades verdadeiramente? Puras recordações, saudades talvez”. Através desses questionamentos, Sérgio sugere que a partir das recordações de episódios do passado, ele pode ter criado sentimentos que não foram vividos quando tais fatos ocorreram, mas quando os evocou a partir da memória. Em outras palavras, as saudades e os sentimentos em relação ao passado podem ser ilusórios, criados a partir das recordações presentes na mente daquele que se lembra. Tais questionamentos provocam a dúvida da própria saudade.

d) Incorreta. No segundo fragmento, Sérgio, de fato, denuncia a hipocrisia da saudade que sente, no entanto, apresenta a passagem do tempo como sendo certa e inexorável: “o tempo é a ocasião passageira dos fatos, mas sobretudo — o funeral para sempre das horas”; tendo isso em vista, é incorreto afirmar que o narrador considera a passagem do tempo incerta.